Hoje te flagrei ronronando em minhas mãos, durante um abraço. E confesso
que nem sempre mereço os amores que recebo, e confesso que a maior parte do
tempo não sou merecedor das coisas boas, porém certa vez, assistindo a Meu Gato
Endiabrado (pois sou pai de primeira viagem e queria aprender a lidar contigo),
ouvi uma frase, dessas frases aleatórias que seu cérebro grava sem propósitos
grandiosos, do mesmo jeito que grava um sorriso ou fotografa um tom de voz, uma
risada. No programa, ao lidar com um desses bichanos agressivos que nada
entendem de si mesmos e o porquê de repelirem aproximações e carinhos a
agatanhadas, Jackson Galaxy o convencia a vir aos seus braços e dizia que estes
animais estão sempre dispostos a perdoar e a amar, ele dizia que isso os
diferenciava do resto, que isso os diferenciava de nós.
Então te coloco no chão.
Você começa desesperadamente a encher o buchinho com o croc-croc-croc da
ração. Ainda está ronronando. Daqui a pouco, frouxa como é, cagará um barro do
tamanho do de gente.
Então se lamberá, bagunçará a areia e sujará o chão. Vai me olhar com
olhos esbugalhados, cínicos e sonsos de quem nada fez, e aí vai dormir.
A merda fica pra mim.
E quem sabe,
talvez,
na próxima vez,
só talvez,
outro ronronar também.
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