6 de fevereiro de 2018

Ronronar n.1



Hoje te flagrei ronronando em minhas mãos, durante um abraço. E confesso que nem sempre mereço os amores que recebo, e confesso que a maior parte do tempo não sou merecedor das coisas boas, porém certa vez, assistindo a Meu Gato Endiabrado (pois sou pai de primeira viagem e queria aprender a lidar contigo), ouvi uma frase, dessas frases aleatórias que seu cérebro grava sem propósitos grandiosos, do mesmo jeito que grava um sorriso ou fotografa um tom de voz, uma risada. No programa, ao lidar com um desses bichanos agressivos que nada entendem de si mesmos e o porquê de repelirem aproximações e carinhos a agatanhadas, Jackson Galaxy o convencia a vir aos seus braços e dizia que estes animais estão sempre dispostos a perdoar e a amar, ele dizia que isso os diferenciava do resto, que isso os diferenciava de nós.
Então te coloco no chão.
Você começa desesperadamente a encher o buchinho com o croc-croc-croc da ração. Ainda está ronronando. Daqui a pouco, frouxa como é, cagará um barro do tamanho do de gente.
Então se lamberá, bagunçará a areia e sujará o chão. Vai me olhar com olhos esbugalhados, cínicos e sonsos de quem nada fez, e aí vai dormir.
A merda fica pra mim.
E quem sabe,
talvez,
na próxima vez,
só talvez,
outro ronronar também.


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