Linhas,
linhas côncavas,
linhas sob
as digitais, linhas entre as palmas. Linhas comigo, em cima, em baixo, linhas in, linhas sobre e linhas sob. Linhas
sob a luz da sala apagada e linhas sob a luz da cozinha inerte, diante dos meus
dedos, iluminadas, vivas, acesas.
Linhas de madrugada, ansiosas e verdadeiras em despirem-se, verdadeiras em
exibirem-se serenas ou afoitas. Linhas que sobre mim não se controlam, embora quem
a fingir quase-controle seja eu: embasbacado em admirá-las, tolo em afagá-las
com dedos, boca e língua. Do corpo feminino, depois de cabelos, depois de
unhas, depois de olhos e depois de dedos, eu admiro os seios: são eles milimetricamente
posicionados para acolher não a face inteira, mas a lateral do rosto, num
acalento estrategicamente orquestrado pela genética feminina; não importando se
grandes, não importando se medianos e não importando se pequenos, não importando
se um desconcertado broto ou não importando se tão belos e colossais; estão
sempre ali, às vezes em sincronia, às vezes acanhados, às vezes sem pudor e às
vezes paradisíacos em simetria.
Desejei,
tão falho, escrever sobre tuas linhas.
Desejei,
tão falho, falar sobre os teus seios, acalantos arredondados, discretos, não
dos pequenos que por aí encontrei e tanto venerei, mas desses quase-medianos,
com linhas côncavas, insanamente esculpidas pela natureza, pela genética ou
pelo Desenhista Universal, O Arquiteto Criador de céus, mares, galáxias e
seios.
Desejei,
falho, falar sobre eles sem soar agressivo, torpe e violento, sem soar misógino
como aquelas duas meninas (que sempre revezam nomes e aparências aonde quer que
eu vá) bem disseram que eu era, quando, horrorizadas, escutaram a leitura minha
de um conto, crônica ou poema em volta da roda. Algumas delas levantaram-se.
Outras reviraram os olhos. Essas duas permaneceram como as duas do outro texto,
texto distante, numa agora perdida sala de um antigo e perdido grupo de apoio
para suicidas em potencial.
Desejei,
tão falho, escrever sobre teus seios sem soar como Bukowski, porque há quem
diga por aí que faço-os lembrar do velho safado quando escrevo, pois estas
linhas, às vezes, trazem consigo um palavrão ou o nome de alguma genitália
devidamente escrita e carregada, como alguém que digita em caixa alta para
expressar grito e eloquência.
Desejei,
falho, no entanto escrever de maneira diferente de Bukowski e diferente de mim,
sem palavrões, sem nomes de genitálias, sem ofensas ou podridões; desejei, tão
falho, escrever sobre as linhas dos teus seios sem nem mesmo usar a outra
palavra, a mais vulgar delas, porque enquanto estavas sobre mim, daquele jeito
intenso, sim, mas tão bela e louvável, com a camisa do Monkey Business sobre o
corpo – a única peça ainda a te cobrir –, e minhas mãos subiam e arrastavam a
camisa só pra vê-los balançando, subindo macios, descendo orgásmicos, foi com
beleza que te enxerguei e foi com ternura que desejei te eternizar,
independente dos caminhos que nos guiarem daqui em diante.
Desejei,
falho, tecer a respeito das linhas do teu corpo e dos teus seios arredondados
com o mesmo toque dos poetas, embora poeta eu não seja – sou só um contador de
histórias a domar aqui e ali as palavras. No entanto, domar palavras não requer
dom, requer prática. Com dom, meu bem, nascem os poetas, que dos teus seios
fariam poema épico com palavras rebuscadas, trocadilhos em latim e referências
classicistas; dominariam a musicalidade, o ritmo e a rima, não A com B ou B com
A como os domadores de guardanapo tão banalmente ousam dominar.
Com teus
seios eu faria muito, muito mais do que tão mera e tolamente falar sobre
linhas,
linhas côncavas,
suadas e bem alinhadas com as tortas linhas de torto destino que marcam as
palmas de minhas mãos.
Desejei,
tão falho, escapar da sina de tantos Bukowskis de prosas agressivas que afastam
leitores sensíveis e críticos xiitas, exacerbados e desesperados por poesia
nata e sensibilidade latente. Desejei, falho, escapar da sina de escrever da
maneira antiga (pelo menos aos ouvidos das meninas que escutaram apenas um
conto errado e outro), sem tratar com banalidade, descaso ou desrespeito o teu
corpo com cheiro de sabonete líquido, o teu corpo pós-banho de pele macia,
suave e com os seios vivos, redondos, macios e bem-talhados.
Desejei,
espero que não tão falho, talhar por aí o casual primeiro encontro de quando
tuas linhas vieram parar sob o meu toque, para tocá-las e para senti-las, para
talhá-las na atual lembrança da minha pele.
E por isso
tuas linhas em minhas linhas toco agora:
tão côncavas,
tão lindas.
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