9 de junho de 2017

Meus olhos me pregaram uma peça, meu bem



Meus olhos me pregaram uma peça, meu bem.
E eu não sei quanto tempo tenho.
Onde quer que você esteja, espero que esteja em algum lugar, vindo um dia até mim ou não. Eu nem sequer sei se você existe, se você um dia existiu, se você ainda vive ou se está prestes a nascer. Talvez um dia venha a mim somente com um par de mãos e dedos carinhosos, sejam macios ou não, sejam românticos ou não, sinceramente pouco importa. Talvez um dia venha a mim com uma voz mansa, suave, dessas que pertencem a pessoas que eu realmente admiro: pessoas que sabem lidar com o tempo corrido que os últimos anos têm levado de nossas vidas; pessoas que sabem aproveitar os segundos de carícia; people who enjoy the silence; pessoas que andam devagar, embora nunca tenham possuído a pressa que Almir Sater rechaçou. Talvez um dia venha a mim quando toda essa escuridão tomar conta de meus olhos, quando no futuro esta coisa aqui dentro tiver avançado e tiver me negado o direito de ver o teu rosto que eu espero um dia ver. Eu não sei teu nome, eu não sei a cor dos teus olhos, eu espero um dia ver teus cabelos, mesmo eles sendo uma sombra distorcida no meio da clareza que gradativamente vai me faltar. Espero ter os ouvidos para ouvir tua voz, espero ter o tato para sentir tua pele e espero ter o olfato para sentir o teu cheiro. Espero ter o paladar para provar-te o meio das pernas ou o calor da língua. Espero que você chegue por aqui, durante esses dias, antes que toda a recém-descoberta cegueira patológica consuma minhas córneas e me acorrente para sempre na escuridão que eu sempre soube que viria, porém não desse jeito tão literal e maligno.
Não há muito tempo dobrei-me às súplicas gerais e iniciei uma jornada sem volta pelas graças de How i Met Your Mother.
Eu acho Ted Mosby um idiota, embora metade dos meus amigos classifiquem-me como ele. O idiota é um idiota, mas um idiota com razão. No fim, é Ted Mosby quem detém o verdadeiro segredo; no fim, é Ted Mosby quem tenho sido nos últimos anos escrevendo todas estas palavras na aparente vã busca de alguém que nunca chegou e que eu sempre soube disso, lá no fundo – o segredo é que você não cai na ilusão de ter encontrado o alguém certo, nunca foi a minha posição, na verdade você só aceita o que tem e aproveita enquanto houver tempo. As palavras escatológicas e dedicadas que escrevi até hoje, seja a qualquer mulher que tenha sido, não foram a ilusão de ter encontrado O Destino, foram apenas minha resignação de aproveitar o que me foi dado pelo tempo (contado) que eu sabia que me fora dado.
Assim como Ted, no entanto, eu ainda aguardo por aqui. Em alguns anos talvez esta cegueira patológica já tenha me consumido, só me restam agora todos os exames médicos complexos e toda a consagrada e indiferente avaliação da máfia branca para ter certeza.
Espero que você chegue por aqui antes da conclusão desta Tragédia sem volta, ao bom e velho estilo grego.
Seja quem você for, exista onde existir, eu só quero um pouco de paz e de silêncio, não quero mais estas palavras sobre pessoas que não são o que quero ou que nunca foram o que preciso, não quero mais estas palavras, porque words are very, very unnecessary.
They can only do harm, meu bem.
Meus olhos estão me pregando uma peça
e eu só quero enxergar o teu rosto.



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