22 de março de 2015

Despedida



Ela se foi na mesma semana em que derradeiramente descobri quem era. Na teoria, pelo menos, embora na prática eu já a sentisse há tantas vidas. Ela morreu daquela forma: gradativamente complexada, com críticas sussurradas ao acaso, com olhares e indagações tão aparentemente inocentes. “Por que você faz isso? Por que você faz ela?”. Foi aí que ela começou a morrer, pobre moça. Eu a amava tanto, juro que a amava. Também juro que a sentia com todas as minhas forças mais juvenis, porque fazia parte de mim, fazia parte do meu não-oficial-ofício. Ela fazia parte da minha inútil, nada convencional e não considerável arte, porque ela era a minha arte. Naquela fatídica semana, logo quando finalmente eu a havia descoberto pelas vias teóricas de fato (embora estivesse numa linha de pensamento que andava cagando para as tão obsoletas teorias), a pobre e linda moça catacumbou-se dentro de mim, levada pela triste degradação minha, pela morte do meu gosto, do meu interesse, do meu despertar para a triste, cinzenta e insossa realidade.
Ela morreu tão tragicamente dentro de mim que nem lágrimas mais eu possuía para me despedir. Talvez minhas lágrimas estejam aqui nestas linhas, indiretamente um memorando último que não ecoará no tempo. Eu só queria me despedir de maneira justa, à altura de tudo o que a linda moça me proporcionou nos últimos anos.
Vá em paz, Poesia.


9 de março de 2015

Cavaleiro das Trevas (Parte 1)



E o esdrúxulo cavaleiro sairá abatido, como todo bom e velho ser humano. Não aos moldes “adolescentes” de abatimento, mas um abatimento verdadeiro, merecedor de crédito, porém mais incisivo, centrado, menos insano e descontrolado. Um abatimento típico dos homens velhos, que se abatem e sabem admitir que “foi necessário, próxima rodada”. Não há motivos para alardes, tempestades e encarnações ultrarromânticas, é apenas um fim como todos os outros, com a única diferença de que, nesta ímpar e peculiar situação, o protagonista deste lado da estrada será não somente abatido, como mal visto, criticado e repudiado. Não que ele não esteja acostumado. Esse, meu amigo, é o preço por construir uma capa que, dependendo do espectador, sempre teve duas versões: a bobinha e a canalha. E o segundo lado está virado para cima agora, o lado da faceta mais torpe, suja e sem escrúpulos.
O pobre abatido não se importa de ser visto assim, não se houver no fundo um motivo e um propósito maior, quase com um tom enlameado de sacrifício. Talvez ele até se sinta como um particular novo tipo de Jesus Cristo, pregado em uma cruz que já estava fincada no chão há muito, muito tempo; talvez ele até se sinta como um particular novo tipo de Cavaleiro das Trevas, que nunca, jamais foi o tipo reto de herói (nem de longe), porém iniciou sua carreira com bons motivos e intenções.
Pobre herói. Pobre anti-herói. Pobre vilão. Que sua cabeça agora esteja a prêmio, que agora ele realmente seja aquilo que os outros querem que ele seja – talvez seja mais fácil. É o preço de um bom sacrifício. É o preço da paz.



CAVALEIRO DAS TREVAS (PARTE 2)