Esse é mais um amontado de palavras
com um título que pouco condiz, sabe? Aqueles textos com títulos inusitados que
te levam a crer em uma coisa, mas que contam outra totalmente diferente? Pois
é. E aqui vamos nós: porque estas palavras não são sobre uma xícara de café,
não são sobre o aroma da cafeína ondulando pela cozinha e tomando conta da
casa, não são sobre esmagar o sono com trabalhos intensos e leituras
obrigatórias tediosas. Não, meu amor.
Estas palavras são puramente metalinguísticas, porque elas são sobre você e sobre o meu fracasso. Não são ladainhas melódicas ou melodramáticas, são a
respeito do quanto eu paro para pensar e vejo o quanto fracassei com você, com
nós. Foi aqui que uma simples xícara de café me trouxe, neste momento de
contemplação silenciosa, em meio aos estalos da geladeira e nenhum ruído lá
fora. Estas palavras são a respeito da minha incapacidade nata de decepcionar
multidões e a mim mesmo, são a respeito de enxergar que sonhos são apenas
sonhos, que de vez em quando – raramente – tornam-se frutos, mas que ainda
assim são sonhos, sobretudo os meus, dos quais você pertencia, dos quais você o
era. Estas palavras fazem minhas conclusões pessimistas tomarem um só rumo: eu
não fui feito para isso, meu amor, não fui feito para construir nosso futuro,
nem quando eu costumava ser otimista, nem hoje quando costumo ser... Indiferente. A empolgação morreu, as
perspectivas sanaram, e ainda assim eu continuo falhando e fracassando, em cada
decisão, em cada meta realizada, em cada coisinha boba que penso “agora vai”,
mas nunca realmente vai a algum lugar, nunca termina, nunca de fato se consuma.
É por isso que eu não daria certo com você, é por isso que esta xícara de café
na madrugada me trouxe aqui: talvez tenha sido bom como tudo acabou sendo, eu
cagando em nossas vidas antes que a cagada se tornasse uma diarreia sentimental
e romântica. Viu? Sorte a sua. Sorte a sua eu ser bom em uma única coisa, que é
falhar.
28 de maio de 2014
20 de maio de 2014
Notas sobre senhoras e parceiros
A diferença, meu parceiro, é que ela
ainda te ama. A diferença, a pequena diferença que distingue nossos dois
mundos, é que ela ainda espera uma grande atitude sua em relação ao retorno, em
relação à sua própria correção perante os erros cometidos, perante as merdas
que você fez. E olhe que fizemos, ambos, merdas sem precedentes, mas quanto a
isso pode ficar tranquilo, porque ela sempre te amou a esse nível: sempre soube
que suas merdas eram sempre em função dela, eram sempre por estar fugindo do
passado para alcançá-la, eram sempre pra tentar provar algo – que, convenhamos,
você não precisava provar, porque seu eventual ato de respirar já era
inteiramente designado àquela mulher. Ora, vamos, parceiro, admita: sempre
houve uma esperança para você com a sua senhora,
diferente de mim com a “minha”. Ah, e
para efeito de explicação, que fique claro que não converso aqui com minha
própria consciência ou com o meu lado bondoso, converso aqui com um bom
camarada, um bom amigo que deveria ler isso e seguir meu conselho. E qual
seria? Relaxe e continue a viver, porque
ela irá voltar. Fim de papo. E eu fico feliz em saber que nesses longos
sete, oito, nove, quiçá dez anos de jornada, vocês ainda são um do outro,
pertencem somente a si mesmos apesar de todas as idas e vindas. Vocês dois são
um bom casal, camarada, saiba disso. Saiba que ela ama o trapo que você é, ela
ama o falho, porém bom homem que você sempre foi, voltado à ela e somente ela.
Já comigo? Ah, amigo, comigo o buraco
sempre foi mais embaixo, abaixo das sombras dos pés, abaixo da sombra das
sombras. Comigo o negócio sempre foi e para sempre será complicado, porque por
mais que na minha cabeça eu tenha sido exatamente igual a você, por mais que
talvez um dia ela tenha gerado um mínimo de afeto naquele peito de seios
pequenos e lindos e de coração bondoso e introspectivo, não foi suficiente para
encobrir rastros de merdas mal construídas e atitudes não feitas. A diferença
entre nós, além, claro, do fato de você ter sorte e eu não, é que a minha senhora não estará disposta a
voltar como a sua sempre esteve. A sua senhora,
amigão, ainda tem a honra e preocupação de esquentar a cabeça com suas cagadas,
mesmo hoje, mesmo depois de tanto tempo. Ela se preocupa porque ainda teme
perder algo pelo qual planeja ganhar e conquistar, ainda existe algo pelo qual
lutar - essa é a outra diferença. Jamais deseje que sua senhora o mostre uma
música cujo refrão diz que “agora você é só alguém que eu costumava
conhecer”, porque
dói, parceiro, dói pra caralho.
E olha, já para aproveitar esse
momento de confissão pública, porém diretamente particular, quero ressaltar que
não sou um idiota que finge nunca ter errado, muito pelo contrário. As consequências foram consequências dos meus
próprios atos, ou, se assim ela
preferir corrigir, consequências da falta
dos meus atos. É, que se encerre assim: que o mundo inteiro fique sabendo
que a culpa foi e sempre será somente minha, eu pequei por esconder o que
sentia, eu pequei por agir estranhamente o tempo inteiro, eu pequei por parecer
misterioso e enigmático, quando na verdade por dentro não passava de um
menininho eternamente apaixonado – e que ainda não superou isso. É, amigão. O
que nos difere é isso: você ser um bom idiota e ter uma mulher que ainda está
disposta a ficar contigo; e eu, por ter sido um péssimo idiota com uma mulher
que há anos me superou e soube viver a própria vida, sutilmente me dispensando
com uma indireta e uma letra – “e eu sequer preciso do seu amor”.
Por isso vá lá, parceiro, termine sua
jornada e fique com sua senhora. Um
brinde a nós e à nossa amizade, um brinde às mulheres que amamos, um brinde aos
finais felizes. E um brinde a mim, é claro, e a todo o peso e à dor que a culpa
pode trazer.
Tin-tin.
11 de maio de 2014
Santo Jesus
Maldito seja, ou, nesse caso, bendito
seja. Jesus esperto, sabe? Que lugar bom de se estar, queria eu ser ele por uma
fração de segundos. Aquilo era a pura danação, tentação completa, uma heresia
linda de se ver - diga-se de passagem.
Era o modo como aquele crucifixo encaixava, perfeito e promíscuo; era o modo como
ele deitava sobre a pele dela e a abençoava por um dia inteiro; era o modo como
a protegia com santidade, ou talvez o modo como descansava, zeloso, perto, tão
perto do coração dela. Oh, que coisa
linda. E por coração, quero que o mundo veja minha ambiguidade na ponta da
língua, quero eu que ela também saiba disso. Maldito seja, cara esperto, ficando no melhor lugar para se estar,
o que inevitavelmente me faz enxergar aquela fervente poesia em forma de mulher
completamente despida, com o Jesus pendendo em seu pescoço, de braços abertos
para receber a hóstia sagrada da carne, do sangue, do suor e de outros fluidos
corporais. Eu a imagino com os cabelos soltos, lisos, curvados pelos ombros,
caindo pelos braços e roçando com suas pontas os rosados mamilos, enquanto o
abençoado filho de Deus paira entre seus seios, como o faz durante o dia,
escondendo-se em meio ao decote casual, em meio à cânone inocência dos peitos modestos,
redondos e chamativos, atraindo para um poço vil e sedento de magistrada luxúria,
tão silenciosos e deleitosos, para a mácula de qualquer homem em sã insanidade.
É, maldito seja, Santo Jesus.
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