Vou aqui contar nos dedos as crônicas
de uma vida que escrevi, mas ao mundo não mostrei: uma, duas, três... Talvez quatro,
talvez cinco, no máximo seis. Não só como diz o ditado, aqui na minha situação
também não é a quantidade que importa, e sim a qualidade, a seiva em questão de
um bruto que o mundo nunca leu, a alma que você
jamais vai vislumbrar. Não, porque já é tarde, tarde demais para continuar
com aventuras literárias e desabafos mal direcionados que nunca chegarão a ser
atingidos. Eu escrevi, eu escrevi tanto, eu quase morri sobre esses teclados e
do mundo recebi um milhão de respostas, mas de quem realmente interessava, nada. Tantos e tantos parágrafos falando
sobre distâncias físicas, sentimentais e pessoais, sobre amizades impossíveis,
sobre abutres famintos e ao mesmo tempo vitoriosos, sobre homens e menininhos
bem melhores que eu, mais bonitos, mais significativos, mais maduros e vividos.
Sobre tantas coisas que já nem faço questão de lembrar, porque morreram
juntamente com seus respectivos títulos e linhas. Já era, já deu. Só o que não deu foi essa vontade de continuar, de
voltar atrás e corrigir as coisas que eu acho que errei (embora os amigos
insistam em dizer que de erros totais, pouco me vali), das palavras não ditas,
somente escritas, escritas e escritas. Palavras
não mudam nada e promessas são areia na tempestade. Forças ainda tenho,
forças posso buscar para escrever mais um pouquinho de toneladas de lamentos,
desejos e sonhos, mas não o farei, porque preciso crescer e engolir essa
baboseira. Guardarei essas linhas assim como guardei tantas outras, e talvez seja
melhor assim, porque, como sempre, eu
jamais seria correspondido. Que morram neste Tártaro, todas elas, malditas,
venenosas, porém tão vitais, tão necessárias, tão repetitivas e verdadeiras. Que
morram. Que morram. Que morram...
25 de janeiro de 2014
22 de janeiro de 2014
Ataraxia
Ataraxia pode ser conhecida como um “distúrbio”
ou uma patologia em que o afetado é praticamente indiferente ao mundo e às emoções
à sua volta. Corrijam-me se eu estiver dizendo merda, mas sendo de fato uma
patologia ou um mero estado filosófico da mente, em que o próprio “afetado” acomete
a si mesmo à tal mudança, ou sendo qualquer hipótese inerente apenas à mente
dos mais loucos, em dados momentos me pergunto se isso também não me acomete. Não
me considerando um louco perturbado (embora alguns insistam em afirmar isso),
pervertido tarado sem coração, frio, sujo e inescrupuloso, mas vez ou outra abandono
uma aventura sentimental do mesmo modo em que mergulhei nela. E assim a garota
atraente da semana passada, logo após nosso envolvimento, torna-se tão
desinteressante quanto uma atração física pelo retrato de uma velha feia que
viveu há um século. Pergunto-me de onde vem todo esse desinteresse e as ligações
que não faço, a mensagem que não envio por celular ou a falta de vontade que
tenho em convidá-la para sair. Há algo de errado em mim, disso tenho quase
certeza, algo que não é a ataraxia, mas beira tão próximo a margem que chega a
espantar. Há também quando alguém está perigosamente doente e eu preciso fingir
preocupação, porque enquanto todos estão se desesperando, estou calmo; como
quando minha própria mãe beirou um diagnóstico de câncer e eu agi normalmente,
preocupado, claro, mas não desesperado analisando cada possibilidade de tragédia.
Se é isso um feto ou mera semente de um estágio anômalo ao distúrbio antes
citado, eu não faço a mínima ideia, mas há algo aí... Digo, aqui, aqui dentro, nesta cabeça
deturpada e estranha, onde eu não ligo, onde eu não me importo verdadeiramente,
onde apenas me forço porque quero sentir e quero me preocupar. Mas realmente não
sinto, realmente não me importo.
16 de janeiro de 2014
Amizade
Puta que pariu da coisa foda. E nessa
frase se resume o que é a amizade. Tubarões que andam em bando e lutam por si,
como diria uns dos meus melhores amigos. Mas o mais belo é que não existe um
modelo, um molde, um conceito concreto do que é amizade, até porque existem
tipos diferentes. A aleatoriedade determina isso. Apesar do clichê, são irmãos
de outras mães, mas são os irmãos que escolhemos. A afinidade determina isso.
Seja pela bebida, mulheres, esportes ou escrita. Amizade é chamar a mãe do seu
parceiro de todo um leque de expressões, menos de moça. Amizade é ter o wi-fi
conectado automaticamente quando você entra na casa do outro. É pegar as coisas
na geladeira e mandar o outro pra casa do caralho por que ele faz a mesma
coisa. É tirar onda por que ficou com aquela mulher feia e elevar o status
porque ele ficou com a que todos desejavam. De forma geral, a amizade é a forma
mais simples e bonita de amor, já que não envolve dinheiro, interesses e sexo,
ainda que estudos provem que isso fortalece a amizade, homem-mulher,
mulher-mulher, homem-homem, tanto faz. O importante é ser feliz e ter ao seu
lado aqueles que te façam bem e que estejam ali por também se sentirem bem.
Todos são livres pra decidir com quem querem estar. Isso é básico, fundamental
e irrevogável. Aqueles que se aproximam ou tem amizades por interesse, meus
mais profundos pesares. Aos que estão só por estar, deixo a frase do meu
brother Chewbacca, vulgo Bruno: “Vocês são os filhos da puta mais filhos da
puta que eu tive o desprazer de conhecer”. Mas não existe nada que afaste de
vocês, pois a amizade é tudo, amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete
chaves, juntos somos carvão, enxofre e salitre e valeu por vocês existirem,
amigos, bando de moleque leite com pêra.
(T.S.Banha)
15 de janeiro de 2014
Preço
Eu um dia também sonho em me vender, e
espero que isso ocorra lentamente, que eu me transforme em uma máquina
pré-direcionada e comece a contestar meus próprios padrões e meus próprios
materiais. Espero isso pela experiência, porque o maior erro de um ser humano,
por mais que clichê que seja dizer, ainda é o de não querer arriscar, de não
querer ser e não fazer. E por isso também em me vender, seja por dinheiro, seja
por amor, seja por objetivos sujos, seja pela vingança, pela primorosa vitória,
pelo sucesso, ou por uma legião de seguidores. Seja pelo que for, seja por
qualquer coisa, também sonho em me vender, tornar-me tão previsível quando o
pau de um playboy drogado e garanhão. Quero descobrir o preço do prêmio máximo
e por consequência, o preço amargo e ácido do arrependimento, o verdadeiro valor
da vergonha, a compensação de tantas risadas externas e chacotas eternas. Eu o
farei, eu realizarei, sem medo das boas ou más consequências – porque como o
dito popular avisa: “o futuro só a Deus pertence”. Ele pode saber o que
acontecerá, mas jamais me impedirá de fazer o que eu quero, o que eu sonho, o
quanto quero ganhar – ou perder. O futuro a ele é visível, mas só a mim é
moldável. Não importa o preço e o valor, não importa o fim, não importa o
início. Se eu tiver de me vender, pelo puro e simples prazer do gosto, da
curiosidade, do risco, da excitação pelo desconhecido, então me venderei. Pois ela é minha, e faço eu dela o que bem entender.
6 de janeiro de 2014
É assim que você se torna uma mulher
Não nego o mau caráter de um homem,
moça. Não nego que muitos de nós não valemos o chão que pisamos, e que eu mesmo
não vali certos chãos que pisei ao longo de minha curta vida. Não nego nossa
natureza vil e perigosa, extremamente mentirosa quando há de ser, não nego, não
me defendo – condeno a mim e talvez a todos, talvez até mesmo aos mais
inocentes que aqui sequer merecem ser citados. Não nego o grande direito de uma
mulher ao reclame, à oposição, o direito de questionar e cobrar explicações –
quem sabe até a justiça –, mas isso não a concede o direito de menosprezar algo
bom em função de uma ocasião que saiu errada. Isso não a concede o direito de
encher nossos ouvidos com indiretas banais que nunca atingirão o alvo garanhão,
porque provavelmente ele já estará cortejando outra garota, seduzindo-a para um
rápido namoro para aconchegar o pau nessa próxima e respectiva vagina. Homens não prestam, é, eu sei, vá em frente,
diga isso, não contestarei, só não coloque a culpa em um sentimento puro e
bondoso (que você achou estar sentindo) em função de uma desilusão besta e
passageira. Há mulheres e garotas com boa intuição, há mulheres e garotas com
intuição nenhuma, mas isso não significa que você precisa ser uma panaca
mongoloide que acha que encontrou o amor da sua vida na primeira semana de
conversa. Sim, homens não prestam, é, eu
sei, vá em frente, diga isso, não contestarei, mas não é culpa de todos os
seres do meu gênero ou culpa do “amor” que você disse sentir se sua atitude foi
infantil e típica de uma princesa babaca da Disney. Isso não é um conto de
fadas, moça, viver em um mundo onde “todos
os homens, sem exceção, não prestam” te obriga a ser mais esperta e menos
medíocre. E aqui vai um conselho: falta de mediocridade não significa ser
ranzinza, chata, grosseira ou uma feminista-xiita. Não é culpa de ninguém que
sua ilusão tenha dado errado, portanto, não venha culpar o mundo por um vacilo
seu; não venha dizer que todos os homens só pensam com o pau, se os poucos com
quem você se envolveu só faziam isso. Talvez eles estejam sendo extremamente
mentirosos e oportunistas porque viram em você uma garotinha boba e iludida,
cheia de expectativas e sonhos levianos. Não culpe um determinado sentimento
por uma boba desventura que você teve – é o que quero que você entenda, é o que
quero que você aprenda. Uma mulher de verdade... Aliás, uma pessoa de verdade só cresce,
verdadeiramente, quando aproveita as coisas boas de um relacionamento e aprende
racionalmente a amadurecer com as coisas ruis.
É assim que se cresce, garota: sem
culpar ninguém, a não ser a própria ingenuidade e os próprios vacilos.
É assim que você se torna uma mulher.
Quando encontrei Maria
Quando encontrei Maria, eu andava um
caos. Um caos pacífico, desses não destrutivos, desses que não machucam vidas,
estava mais para um caos “pós-tempestade”. Quando encontrei Maria, ah, eu
lembro muito bem, pouco imaginaria que ela teria um importante papel a
desempenhar dali em diante, pouco tinha em mente qual arquétipo de personagem
ela seria dentro daquele destruído e massivo roteiro. Quando encontrei Maria, o
mais tormentoso problema não era a carência ou o desespero de completar, e sim
a solidão de se estar na lama sem amigos ou alguém um pouco além disso. Foi aí
que ela apareceu, ironicamente da mesma maneira que a Virgem Santa surgiria
para um afogado alcoólatra que busca um propósito. Só que esta Maria em
especial era mais real e menos virgem que a mãe de Cristo, ela realmente
existia e tinha um marco a cumprir. Quando encontrei Maria, ah, sim, certas
coisas fizeram sentido e novamente senti-me afogado em seios maternos – entenda
isso como quiser – e calorosas pernas. Quando encontrei Maria, até estive ao
ponto de escrever um bom romance inteiro, mas pela primeira vez, vi-me dedicado
mais ao tato que à literatura. Escrever tornou-se enfadonho e sem sentido,
porque quando encontrei Maria, tive coisas melhores a fazer – como viver.
2 de janeiro de 2014
Chuva de verão
Observei-a cruzar o hall de entrada,
absorta do mundo à sua volta. Ela tinha uma espécie de tranquilidade na alma
que eu nunca entenderia, e que nunca fizera questão de entender, porque algumas
coisas você apenas admira e se apaixona, não
tenta entender. Ela parou, fez o seu pedido e olhou para trás, quase na
minha direção. Ajeitei os ombros e prendi o ar nos pulmões. Senti as mãos
geladas. Obriguei-me a não rir do quão idiota andava sendo naqueles tipos de
instantes. Então ela voltou a olhar para o atendente e deixei escapar o ar. Suspirei. Meus punhos se cerravam
numa boba apreensão, ela continuou com aquela calmaria inerente à própria
pessoa. Sorri, meio abobalhado. Enquanto pagava o que quer que houvesse pedido,
a chuva continuava a cair lá fora, contrastando com o céu limpo de sol forte de
poucas horas atrás. Eis um detalhe que você nunca vai entender também sobre
esta cidade: ela é tão imprevisível quanto o coração de uma mulher, por isso é
tão linda e amável, em meio a tantos poréns, você apenas desiste de entender e
se entrega ao momento do instante, ao
instante do momento, esquece que nem tudo é para ser compreendido, e sim
amado – mesmo que seja da forma mais simplória ou extrema, sejam essas coisas mínimos
detalhes. A chuva continuou caindo, singela e inocente lá fora, sem agressões,
sem ventos fortes, sem fúria ou revoltas, apenas uma chuva normal, uma chuva de
verão que volta e meia acolhe-nos as costas, os tetos e os olhos. Enquanto
isso, à garota, foi dada uma bandeja e ela esperou pelo tempo que foi necessário,
sem contrair os lábios em impaciência, pois em seu rosto era tudo paz. Aí seu
pedido foi entregue e ela agradeceu com um fervoroso sorriso, girou sobre as
sapatilhas e veio em minha direção. Saboreei minha bebida e contei os segundos.
Mil e um, mil e dois, mil e três. Passou
por mim e expressou um sorriso educado, do tipo que sempre me oferecia quando
nos encontrávamos. Retribui da mesma forma e perdi-a com a visão periférica. Sentou-se
no fundo do restaurante, puxando conversa com o rapaz que a acompanhava. O sorriso
e o olhar que dava a ele eram verdadeiros, fiéis e dedicados, ambos com
estonteantes e amadurecidos brilhos. “Será
que ela ainda lembra? Será que também era assim comigo?” Foi meu último
pensamento antes de me perder em outras coisas ao olhar lá fora, para a chuva.
Pela primeira vez, sem rodeios ou dramatizações, eu estava em paz. E pude
finalmente observar a chuva cair.
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