25 de julho de 2013

Meu norte é aqui




Meu norte é aqui. Não faz frio, não é composto por moças de peles alvas e cabelos vermelhos, mas é tão lindo quanto. As brisas não são gélidas, o ar não te escapa os lábios em lufadas densas, mas meu norte é aqui. As mulheres são distintas, meigas e extremamente tímidas em sua desenvoltura, quem sabe até salientes em sua timidez. Aqui não chove neve, mas chovem mangas, o que é praticamente tão perigoso quanto. Aqui faz calor, muito, muito calor, e quando não faz, chove um dilúvio que até Noé sentir-se-ia grato. Meu norte é aqui. Dos cabelos longos, lisos, espessos ou curtos, negros, loiros, cacheados, morenos. O que me faz lembrar, inevitavelmente, do dueto entre Dylan e Cash. Não há como não lembrar, não há como esquecer, não há como apagar da imaginação uma esguia garota, com cabelos esvoaçantes nos agudos do bom e velho Bob, e a pele clara e olhos escuros no grave de Johnny. Por isso meu norte é aqui. Onde não neva, onde não faz frio, onde não desce neve, tampouco correm lobos e onde, porém, corre o calor de uma linda moça ao galgar de seu coração, a melodia da voz aos meus ouvidos e sua silhueta no Sol de um úmido fim de tarde. Aqui tem calor, aqui tem suor, tem memória, tem amor. Aqui ela anda, com cabelos soltos, com livres passos e libertas palavras, viva alma e desejo de viver. É onde ela pisa, é onde ela mora, é onde eu a amo. Por isso meu norte é aqui. Sempre será.



8 de julho de 2013

Larissa



Eu gosto desta parte da escrita: dedicar a alguém algo de sua autoria. A arte te proporciona uma liberdade que você não tem no verbal, tampouco no olhar. Enquanto aprecio uma garota passageira, dizem as más línguas (ou os carentes de boa percepção) que penso besteira a julgar pela infinidade do olhar. Dizem – sem a menor certeza – que estou manicando, quando, mal sabem eles, que eu bem poderia simplesmente estar tramando as palavras para um parágrafo novo. É geralmente isso. 
É aí que entra a parte boa em lidar com a escrita: posso vir aqui dedicar essas palavras a qualquer pessoa no mundo, levado pelos mais diversos sentimentos: afeto, amor, admiração, ciúme, cólera, depressão, desejo, excitação, egoísmo, fraternidade, inveja, tristeza. Mas de todos eles, o que mais me fascina é quando a imparcialidade de uma encantadora indiferença me trás a falar de uma bela garota. Indiferença. O que por vezes já me causou problemas torna-se objeto de inspiração para infinitos textos. De repente, me deparo com uma linda garota e a ela dedico o mais belo dos textos. Consequentemente, impressões erradas são causadas e aquelas que amam passam a pensar que estou amando outra. Isso é um problema que falta aos poetas desabafar. mal sabem elas que a musa em questão sequer nos fitou os olhos, sequer conversou conosco, sequer sabe que existimos. Mas dedicamos as mais lindas e sinceras palavras mesmo assim, pois há um risco a ser tomado. Aqueles que leem nem sempre percebem, e geralmente interpretam de maneiras deturpadas. É o dom da interpretação, afinal de contas, significando que a subjetividade do meu escrever está surtindo efeito, fazendo nascerem novas e diferentes concepções aos olhos dos leitores. Isso é belo, embora profundamente destrutivo. Destruí relações por isso - talvez tenha destruído a mais importante relação por essa razão, a julgar por tudo o que ela dizia, as desconfianças que possuía e o ciúme que nos engoliu. Volto a dizer: é um risco a ser tomado. 
“A Japonesa”, Soulstripper - cito essa canção para frisar o que realmente me trouxe aqui. A arte traduz, tanto na escrita quanto na música e eis uma singela letra que traduziu tudo o que sinto ao escrever tantas linhas a garotas esporádicas que passam como vendaval diante do meu dia, diante das minhas semanas, diante do meu ano ou do meu semestre.

“Ela não é amor à primeira vista, não é paixão, não é um romance (...) Ela não é o meu amor”.

Larissa? Talvez nem exista. Apenas mais um nome qualquer nesse temporal incessante de belas garotas que vivem me inspirando. Isso não me torna menos fiel ao meu amor, muito pelo contrário. Talvez eu veja um pouquinho dela em todas elas, e aí me torno meloso e inspirado. Larissa? Ah, Larissa. Um milhão delas pelo mundo. Nenhuma delas existe, porém, ainda assim, existem numa inexistência inalterada num turbilhão de cores de cabelos, olhos e pele, entre tamanhos e espessuras, sentimentos e dores. Larissa? É, nem conheço. Ela até poderia se chamar Isadora, Ângela, Beatriz, Débora, Ellen, Fernanda... Poderia seguir a ordem alfabética inteira, passando pelos G’s de corpo pequeno, pele morena e coração imenso; planando sobre os infinitos M’s de olhos claros e sobrancelhas grossas; S’s de costas pequenas, defeituosamente lindas e tímidas; poderia tomar um pouco de ar fresco pelos R’s com a cor do pecado, de compreensão imensa e amor infinito; Ficar preso pelos Y’s de olhos castanhos intensos sob a luz do Sol das nove da manhã. Eu poderia... poderia... Tantas combinações, tantas admirações, flutuando num arfar cada vez mais intenso, porém sem ter grande amor, sem ter grande promessas. Apenas a admiração de uma música como a da Japonesa.
Larissa de mil nomes, mil corações, mil existências.
“Ela que podia ser tudo pra mim, fica insistindo em não ser nada. Por mim tudo bem”.
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5 de julho de 2013

A discrição de uma mulher



Ele a chamou, ela virou depois de minutos, poderia ter sido após horas, fosse o tempo que fosse. Depois de tanto estar ali, resignada e introspectiva, deparei-me com este olhar, tão discreto, tão impenetrável e imperceptível, que deixa quilômetros de margem para a dúvida – ainda não tenho certeza. Ela olhou ou não olhou? Com ou sem intenção, dirigiu-me um olhar, tão breve que me trouxe a este vão texto. Por uma fração de segundos, enquanto minha cabeça pendia baixa, sua leve doçura feminina fitou-me, valendo-se da brecha que ele proporcionou ao chama-la. Ela olhou, cruzei com seu olhar e, com a mesma discrição que falta a todos os homens, fugiu-me da mesma forma que um segundo antes fora minha – se, é claro, estivesse realmente olhando. Olhou ou não olhou? É admirável a discrição de uma mulher, a forma como se esconde e analisa um mundo inteiro com olhos tão serenos e secretos. Queria eu conseguir ocultar a devoção que as órbitas minhas denunciam, porém não consigo. É isso o que faz de mim um homem, e não uma mulher.

2 de julho de 2013

Letra



Quando ela te disser que uma música a faz lembrar você, não sinta-se feliz, não sorria, não se empolgue. Não seja infantil ao ponto de não notar o real significado nas entrelinhas. Quando ela te disser que uma música faz lembrar sua pessoa, não corra para fazer download do som e colocar no seu celular, não fique feliz ao escutar aquela melodia, imaginando que “ei, ela ainda se importa, ainda há esperança”. Não seja idiota, seu panaca. Ao invés da atitude estúpida de criancinha, procure ler a letra, procure não ser burro, não perca as bases. De todas as músicas que você escuta e sempre procura conhecer o significado das letras, não anule justamente esta do seu hábito normal de descobrir o que diz. Não seja tolo ao ponto de subir ao mundo das nuvens e esquecer de lê-la, não cometa este erro. Não queira descobrir, meses e meses depois, que aquela música falava, basicamente, sobre um alguém que se perdeu no tempo, mudou e perdeu a importância – pouco a pouco. Talvez, se você tivesse reparado neste pequeno detalhe, ainda restaria oportunidade para mudar as coisas. Você daria mais atenção à letra e voltaria no tempo, se daria ao trabalho de não mudar para pior e conservaria todas aquelas boas características que te fizeram ganhar o coração dela. Se você, seu fodido burro e ignorante, tivesse fugido deste erro tolo e vil, então sua vida seria outra e suas crenças, hoje, totalmente distintas. Talvez, só talvez, você estivesse em paz consigo mesmo, ciente de que ainda haveria um futuro no pequeno lampejo de esperança que teria sobrado. Se você tivesse se dado ao trabalho de querer ler o verdadeiro significado de uma estúpida letra, ah, então teria notado o recado que ela te mandou.