29 de abril de 2013

Cachos




Ele fechou os olhos. Pensou. Poucas imagens na sua mente. Em todas elas deitava em se sorriso, mágico como poucos que havia desfrutado. Arranca automaticamente um semelhante do rosto dele mesmo com tão pouco tempo de convivência. Deslizava em seus negros cachos. Como Martinho, queria embrenhar-se no emaranhado de seus cabelos. Eram surreais. Cada toque lhe dava uma experiência sensorial diferentemente prazerosa das demais. E os olhos? Traziam um brilho lunar tão puro. Trazia na sua voz uma serenidade que se igualava a sua firmeza e graciosidade. Sua voz encantava, atiçava seus instintos enquanto ela disparava palavras que aos ouvido dele soavam totalmente aleatórias. Ele só queria sentir o doce calor que as palavras deixavam no seu pescoço. Não sabia os planos dela para o futuro. Não tinha planos para o futuro. Um não incluía o outro. Mas queriam alguma coisa.
- Então, te vejo amanhã?
- Assim espero.

(T.S.Banha)

28 de abril de 2013

Fantasmas



Fracasso, nos sentidos mais profundos, sou o mais digno de me chamar assim.
Escrevam-me textos, componham-me músicas e dediquem-me personagens, mas nada mudará minha auto opinião. Fracassado. Não por culpa minha, não pelos vacilos de um Deus superior; mas sim culpa do acaso, das infinitas possibilidades, probabilidades que convergiram, divergiram, elipsaram e chegam até aqui, neste cálculo resultante e fruto de milhões de coisas que me tornei. Às vezes, apenas não entendo. Talvez seja justiça divina. Eu lembro uma única pessoa, com inicial “T”, da qual magoei profundamente num longínquo ano de 2008. Eu era só uma criança dizendo palavras que ainda não compreendia e que queria viver; fui apenas um menino tolo destruindo, mais uma vez, um coração realmente bom que me surgia. E eu fiz merda. Não que me arrependa ao ponto de voltar para tecer uma continuidade naquela história, mas me arrependo por ter dito algo que não era verdade. Ao contrário do que ela poderia pensar, carrego comigo essas lembranças culposas. Lembro-me de cada erro que cometi com cada uma, fossem elas de família, amigas ou amantes. É dessa forma que preciso crescer: guardar nas memórias os vacilos, aprender a não repeti-los e punir-me a cada manhã para cada desespero e lágrima que causei. Lembro-me dessa única vez. A única vez que disse algo que não me era real, fiz sofrer uma garota, destruí uma mulher. Talvez ela viva hoje sem mais disso lembrar, embora eu tema que coisas ruins tenham-na acontecido. Fantasmas volta e meia surgem, e este nunca me abandonou, mostrando-me que sou um fracasso, pelas coisas que fiz, coisas que disse e, principalmente, por tudo o que pago em penitência hoje. Só eu posso entender a ironia da minha vida, quando ela dá uma volta e me esfrega na cara. “Está vendo? Eis o preço. Eis as palavras que uma vez você disse, agora voltando em dobro...”. Eu não duvido que a justiça divina aja assim, apesar de achar que Deus tem preocupações bem maiores do que punir um reles verme como eu. Falo aqui de cada fracasso que se abate na minha vida - seja na saúde, na acadêmica, na amorosa, na estética, corporal... Julgo-me um fracasso, mas estou conformado, pois sei que isso mereço, sei que cada reação hoje foi fruto de uma ação inconsequente minha, lá atrás, quando eu fui invencível e inquestionável.
Dessa vez eu perdi... Como sempre vem sendo. 

27 de abril de 2013

Quase Sasha Grey




“Dedica-me um texto”, segredou-me, calorosa, ante à despedida.
Eis aqui minha dedicatória: “God Bless Sasha Grey” era a foto no meu celular, naquela semana - os mesmos setes dias iniciais que te conheci e que conheceste minha história. Levianos, num encontro esporádico numa aula esporádica, onde a mistura separou grupos e uniu acasos. A donzela com mais de mil amigos na rede social não era, nem de longe, o alcance que um pobre garoto metido a escritor conseguiria em anos de insistência, mas por vias da aleatoriedade, lá estávamos: diante um do outro, por três aulas acidentais seguidas em um dia acidental com incidentes imprevistos no grande caos de nossas vidas distintas. A moça cobiçada, sem muito entender o que ali fazia e, obviamente, eu, sem muito entender o porquê de fazer aquilo, mesmo com a vida “já feita”, como alguns diriam. Dedica-me um texto, você quis soar culta, mas irônica lá no fundo. Escritores não são garbosos, tampouco onipotentes ou másculos como você imaginou - eles têm a minha aparência franzina e ridícula, ligeiramente descolada e com humor peculiar, se é que você leu aquele livro esquecido no armário ou entende o sentido das palavras “mic-mac” e “Dagon”. Farão piadinhas com esse tipo de coisa e ficarão imensamente felizes se você entender. Quase Sasha Grey. Mas, graças a Deus, não totalmente ela. Termina a aula acidental-ocasional, voltamos aos nossos grupos e você me ressoa um sorriso tímido, com uma singela tonalidade de “continua no próximo episódio”.
O mais engraçado, menina, é que eu te vi lendo “50 tons de cinza”. Você me pareceu incrivelmente apaixonada pelo livro e, críticas à parte, eu te defino desde aí. Se é este livro que te trará ao mundo da literatura e te abrirá portas a novas propostas... Ótimo. Contanto que leias, não te julgarei pelo gosto. Ninguém neste mundo é obrigado a ser ou fazer o que não gosta, sou a maior prova viva. Veja isto como a sua dedicatória - que sei que não me pediu seriamente no instante que pronunciou tais palavras. Nunca resisto ao chamado de uma dama, por mais apaixonado ou desinteressado que eu esteja. Uma dama é sempre uma dama, e elas são a razão pela qual escrevo e escreverei sempre. Sejam colegas de turma, musas desconhecidas ou atrizes pornô. Todas, igualmente, possuem corações por baixo dos seios (sejam eles fartos ou singelos) e já se apaixonaram na vida, amaram e foram tão bobas como eu sempre costumo ser. Mulheres são sempre mulheres, não importa o ofício, não importa a frequência com que sorriem, não importa o formato do corpo, a cor da pele ou a dignidade entre as pernas. Para mim, são todas imensamente iguais. E quando digo “iguais”, me refiro ao turbilhão interior de sentimentos, razões e motivações que filtram e cultivam dentro de si. Dentro de corpos e almas que nem mesmo elas são capazes de compreender.
Se hei de te dedicar um texto, eis aqui ele: todo a você, sem que este encontro tenha sido real, sem que eu esteja apaixonado. Textos são apenas textos, e se te escrevo um, não significa que a ame; se nunca te escrevi um, não significa que não a ame. Escritores são assim: não somos garbosos, tampouco onipotentes ou másculos como você imaginou - temos a aparência franzina e ridícula, ligeiramente descolada e com humor peculiar. Amamos quando não amamos, e não amamos quando amamos. Apaixonamo-nos quando nossos corações não palpitam e, sobretudo, nos desesperamos de desinteresse quando a paixão nos acomete, e/ou vice-versa. Não queira entender, apenas sinta e viva. Se dedicarmos nossas mais fiéis palavras a você, acredite, é a mais pura verdade. Não usamos pessoas reais como desculpa para mais palavras poéticas (essas, nós conseguimos construir sem dificuldades), mas sim usamos palavras poéticas como desculpa para expressarmos sentimentos reais.
Não é difícil de entender, é até fácil.
Seja você uma fiel leitora, seja você uma Sasha Grey.

25 de abril de 2013

Sonho(s) de uma noite de solidão




Título ridículo, porém cabível. Sucinto. Merecível.
Minhas noites não são mais recheadas com sonhos de amores, cabelos longos esvoaçando no vento do norte ou olhos castanhos. Tampouco peles aveludadas. Meus sonhos, agora, acompanham o ritmo de minha vida: mais carnal e promíscua. Ainda há mulheres neles, graças a Deus, mas elas me visitam de formas diferentes, ensandecidas, vívidas, molhadas e intensas. Dia e noite, tarde e dia. Tão efêmeras quanto o coração de um leviano cafajeste, elas são aleatórias, sem ordens, sem nomes, sem rostos ou intenções. Existem por existir. Não me torno aqui o mais fiel dos rapazes, tampouco o menos confiável dos homens. Continuo sendo eu mesmo, um reflexo distorcido do que sou no real, só que agora nas terras do Lorde Moldador. Ainda acolhido por femininas beldades, sedentas por um rápido prazer. Desperto às seis, com o celular tocando a metros. Preciso levantar, desligo-o quase que por reflexo, mas já estou acordado, praguejando mais um dia que preciso levantar e olhar no espelho... Não, não. Esses dias de adolescência autodestrutiva e autocrítica já passaram, isto agora é real. Os sonhos são confortos que não anseio e nem amaldiçoo. Aqui fora meus dias são reais e o apreço pelos sonhos não é como antes; se eu dormir e sonhar, será ótimo; se eu dormir e acordar sem dores de neuropatia, melhor ainda! No mais, elas continuam a me visitar, fruto da desgarrada aventura que vivo lá fora, enquanto acordado e totalmente são de minha existência. A vida não anda sendo uma merda, tampouco anda banhada em glórias e ouro.
Apenas anda por andar, como na obra atemporal de Shakespeare. Ou na representação onírica de Neil Gaiman.

24 de abril de 2013

Pecado


Ele estava cansado. Exaurido de suas forças. Seu corpo se assemelhava a um cadáver, dada a forma como ele estava jogado na cama. Olhos fechados, cabeça cheia. Um futuro era traçado nesse ínterim. O seu. Ele se questionava de todas as suas decisões até o momento. Em especial, das que ele, como nunca antes, se arrependera. Mas isso não fazia diferença, eram fatos que não podiam ser alterados. Nem queria. Assim como sentir falta não significa querer de volta, se arrepender não significa correr atrás para corrigir. Antes que se questionem, não é nada que envolva amor. Pelo contrário. Totalmente carnal, selvagem. Pecaminoso, melhor dizendo. Luxúria, seu pecado predileto. Foda-se o politicamente correto. O pior é que ele era um filho da puta hipócrita. Isso é que mais irrita.  Ele bate cabeça com coisas que lhe aprazem só porque não condizem com o que ele determinou como sendo o melhor. É um alguém digno de pena. Não importa o que falem. Jamais vai mudar seu modo de pensar. Mas acima de toda incerteza e briga com sua razão, ele só pode afirmar uma coisa: Ele quero pecar de novo.

(T.S. Banha)

20 de abril de 2013

Afundado




Afundado em teus olhos, afogado no mar sereno e épico dos teus escuros cabelos. Vou e volto, venho e me vou. Sem destino, sem rumo, pobre e moribundo. Afundado em ciúme silencioso, num seguimento sem rastros, sem pistas, nem danos, nem cogitações. Afundado na tua imagem em minha mente, das mil donzelas que sobem a condução, esvoaçando cabelos e pele que mais lembram você, por entre as ruas, nas sombras das mangueiras, dos olhos castanhos, da cidade úmida. Minha Belém, meu amado norte: a quilômetros – tão longe, tão perto. Eu te vejo vagando, conduzindo meu coração num cálice de amoras, sanguinário teor, que anseia e me constrói o terror. Rimas sem nexos, nexos desconexos. Com olhos rasgados, ligeiramente rasgados na fotografia polaroide que nunca existiu, porque meu mundo é cruel, vil e sedento por alegrias lastimosas. Estou afundado, afundando num pranto imaginário: lágrimas tuas que caíam por mim, hoje desaguam por ele, num oceano que não ousei desbravar. Fui covarde, dei meia volta, voltei. Minha donzela, do mar conturbado e pacífico, rainha do mistério, princesa da contradição. Se em teu sorriso existe ternura ou ódio, já não mais sei. Mas que me afunda, vive afundando e matando, disso tenho certeza. Afundado. Afundando. Em teus cabelos, pele e olhos. Corpo vil, corpo esguio, sonolento, inocente. Afundo mais a cada memória. Indo, indo e indo. Sem volta, sem oxigênio, sem calma, sem glória. Só dor. Afundado, afundo. 

18 de abril de 2013

"O Patrulheiro Mendigo do Universo!" ou apenas uma redação qualquer



Olá, galera.
Esta semana tive uma aula de redação sobre texto narrativo (sim, aos que não sabem, tranquei a UFPA, voltei a fazer curso preparatório para prestar vestibular novamente). Narração, mais do mesmo... Só que, apesar de tudo, eu odeio fazer redação narrativa por um simples motivo: são apenas 30 linhas. O que é uma narração com trinta linhas? Eu não consigo, tenho, sinceramente, um bloqueio quanto a isso porque é pouco demais. Mas voltando ao assunto, o professor nos deu um tempo de quarenta e cinco minutos para fazermos a redação e pediu que usássemos a criatividade. As únicas especificações eram encaixar a fala "Com licença, mas este caso eu preciso contar". Só. Nem o número de linhas (embora tenha dito no fim da aula para aqueles que ultrapassaram o número padrão refazerem a redação, excluindo algo ou coisa parecida) ele exigiu.
Aí estava minha tarefa. Quase um desafio pessoal para um moleque baixinho, magro e sempre fodido de saúde que sonha se tornar escritor. Acontece que como odeio fazer redações narrativas, logo um bloqueio surgiu e então eu me vi diante de uma folha em branco por uns dez minutos. Enquanto isso, divaguei sobre o que escrever então me lembrei de algumas coisas: velhinhos que puxam assuntos em todos os lugares com pessoas desconhecidas; a parada de ônibus na qual pego o busão para ir ao cursinho; o martelo do Thor e no máximo 35 minutos restantes de trabalho.
Mãos à obra. Nasceu o texto abaixo. Consegui encaixá-lo na folha de papel em 29 linhas. Pelo menos a galera gostou, disseram que fumo um beck todo dia de manhã e o professor (depois que as meninas levaram a redação para ele ler) me perguntou na frente da galera inteira se fui eu quem escreveu a "redação do et" e se eu tinha tirado de um gibi. Percebi que depois todos estavam olhando pra mim. Ou talvez fosse a camisa do My Chemical Romance. É, nem sei mais. Vai saber...

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Uma segunda-feira eram definitiva e ironicamente falando, um ótimo dia para um caótico início de semana: ônibus lotado, chuva ameaçando a desabar e um mendigo louco falando sobre aventurar planetárias.
Sob um céu pesado e escuro, as pessoas na parada de ônibus soltavam resmungos particulares a cada minuto que passava e seu transporte não vinha - e quando surgia, era abarrotado e de gente. Um grupo estava sob o toldo de uma loja quando aquela figura surgiu, com andar bambo e sorriso ambicioso no rosto. Tinha aspecto suji e barba desgrenhada, parou com um suspiro e falou:
- Não sei vocês, mas eu tomaria cuidado com os aterradores Bjynorks do sistema treze. - Abriu os braços, esperando uma resposta que não veio. Praguejou fraco e entonou a voz: - Com licença, mas este caso eu preciso contar. E muito! Os Bjynorks estão vindo! Cavalgando em suas naves espaciais, com raios de luz de dar inveja ao Sol! Estou avisando, o sistema de vocês corre risco planetário nível seis!
Um ônibus passou, cinco pessoas o pegaram com estranha pressa. Alguns se afastaram, outros saíram. Mas ninguém ousou dar atenção ao mendigo, que continuou enfático na história. A galáxia permaneceu em risco quando, todos, pouco a pouco, foram embora deixando-o sozinho com os delírios. O mendigo, vendo plateia dissipada, caminhou de volta a esmo, empunhando na mão um relógio reluzente.
Ele apertou um botão. A chuva caiu. Um portal diante dele se abriu. Ninguém sequer reparou.
- Hunf! Eu avisei... Mas eles nunca acreditam.

16 de abril de 2013

Volta o cão arrependido




Não que ele tenha feito merda, mas o modo como sempre larga tudo pra voltar o faz parecer um moribundo arrependido. O Chaves recitou uma vez e, juro por tudo o que me é mais sagrado, eu jamais pensei que usaria uma referência do pequeno Chesperito em uma das minhas falidas palavras. Mas estou usando, pois garotos como eu, e homens como aqueles que sonho me tornar, são repletos de referências. Elas estão na ponta da língua, como uma faca afiada pronta a ser usada na primeira oportunidade vista pelo cérebro ocioso e maluco. Eis um cão como eu. Tio Hank fez assim: largou um futuro vasto com uma linda e ideal mulher, ela mesma disse: “Eu poderia amar você”. Sim. Ele sabia disso. Ele sabia, sem maldade alguma, que aquela Fé destinada a ele seria uma válvula de escape para todas as indecisões vividas até ali. Mas então, ei de concordar no fundo, que todo o turbilhão de merdas que aconteceu não valeria nada caso ele seguisse os caminhos da Fé, da linda Faith. Acompanhem o raciocínio: se não há um desfecho na história conturbada de amor, se lágrimas foram derramadas e muito ainda não foi compreendido, pra quê tomar um caminho novo e abandonar todas aquelas lições que ainda não foram aprendidas inteiramente? O sofrimento existe por um motivo e, eu juro, sem ele, não há vitória. É aqui o ponto chave onde eu entendo o Sr. Henry James Moody. Se você ama uma mulher de verdade, por que abandoná-la na primeira oportunidade de ouro? Você já passou bons bocados por ela, aprendeu o verdadeiro sentido de amar, sabe que ela é a mulher da sua vida e vai abandoná-la por um caminho fácil? De que valerá a pena todo o esforço e dedicação que seu miserável coração fez? Eu, sinceramente, entendo a escolha que ele tomou, porque é a escolha interior que venho tomando para minha vida. Volta o cão arrependido. E esse arrependimento, creio eu, é aquele que pipoca no fundo da consciência dizendo: “Não a abandone, seu idiota. Ela é a mulher da sua vida, foda-se se não ficarão juntos ou se não serão felizes. Não a abandone, porque cada respiro que você dá é por ela e para ela. Não a abandone, nem pense nisso! Volte agora!”. Isso significa “lançar meus monstros pra baixo”; este é o segredo de ser feliz, por mais que nada se concretize: estar em paz consigo e ser fiel para ela, profundamente e sentimentalmente fiel. Não importa a distância, não importa o tempo.
Volta o cão arrependido...

15 de abril de 2013

Desert Song




Well after all, we'll lie another day
And through it all
We'll find some other way
To carry on through cartilage and fluid


Às vezes eu nem acredito que isso esteja acontecendo, mas é a verdade. Quando chega a sexta-feira à noite, antes de dormir, eu paro e relembro semanas atrás quando aquilo aconteceu. Não quero soar dramático, não quero ser dramático, mas é um fato que acaba se desenrolando nas minhas palavras. Lágrima eu não derramei nenhuma, acho que eu não podia me dar ao luxo delas. Não criticando quem chorou, muito pelo contrário, mas é preciso ser forte, encarar o que aconteceu e levar adiante, porque foi essa a lição que me foi dada. Para um chorão nato como eu era, talvez algo tenha secado aqui dentro, mas não sentimentalmente – porque esse meloso idiota e burro que sempre fui não vai morrer tão cedo. Talvez, só talvez, eu realmente tenha agarrado a compreensão daquelas músicas. Me foi dado um legado. Eu sou o legado. Nós somos o legado. Sempre na sexta-feira à noite, durante essas primeiras semanas (e durante os próximos meses que hão de se desenrolar), eu paro o que estou fazendo e me permito um silêncio triste, mas imensamente reflexivo. Outra vez, não quero soar dramático, essa não é a minha intenção, mas não brinco aqui quando digo que aquela foi e é a minha banda favorita. Talvez você que esteja lendo isso agora nunca vá entender, porque, para você, aquela banda não passou de uma existência vã e desprezível, composta por “emos” imbecis e panacas. Bem, não ouso xingar ninguém. Permaneça com sua opinião, só peço que respeite a minha. Pois no fim, esta é a diferença que me tornou um fã e te torna um eterno julgador: enxerguei algo além que os juízes como você jamais enxergarão. Se foi algo bom ou digno? Não sou capaz de dizer, mas foi algo importante para alguma coisa, disto tenho certeza. Eles terminaram, mas não verdadeiramente.
Como disse, eu sou o legado, um pequeno legado que não vai morrer.
Já faz algumas semanas – quase quatro, para ser mais exato. Mas a fixa continua pairando no ar. É como se ela não tivesse caído. Talvez tão cedo não caia. 

11 de abril de 2013

Um verdadeiro casal feliz




Não é preciso dizer "eu te amo" para necessariamente amar. Porque, saibam, o amor está nas nossas atitudes, nos nossos pensamentos, no modo como expressamos ao mundo. O amor está nos detalhes, por mais que você não goste de dizer "eu te amo". Sinceramente? Às vezes isso nem é preciso quando você cuida de alguém. Pode nem ser amor, pode ser apenas uma paixão, mas quem disse que mesmo algumas paixões valem menos que um dito "grande amor?". Onde está o sentido de amar e enfiar seu pau na vizinha só porque ela tem um belo par de seios? Onde está o sentido de amar só para dizer que "temos um relacionamento", enquanto você está lá dando bola para mil outras garotas (ou mil outros garotos). No fim, acredito que o ato de amar, mesmo não sendo esse dos grandes filmes e livros, é simplesmente a forma mais pura de se preocupar e de cuidar. Não é preciso estampar nas redes sociais com status bonitos ou “em um relacionamento sério" se aquilo não vai passar de um rótulo. Socialmente, as pessoas poderão estar juntas e formando um casal belíssimo, mas por trás a garota chora e ele gasta as camisinhas em outras; por trás, ele está na aula e ela trocando juras de amor com outro cara.
De vez em quando (não sempre, que fique claro), não é preciso dizer "eu te amo" quando você está ali, todo santo dia, se preocupando e dizendo "bom dia, tudo bem?". Se um dos dois chora, o outro se preocupa e faz uma ligação por amparo, pega um ônibus ou um táxi e passa a noite inteira ali do lado, às vezes só faz uma visita rápida e não pode demorar porque os pais da pessoa em questão não permitem uma longa noite de união (por questões que só os pais estão certos em entender, desconfiar e estabelecer). A questão toda é que os casais mais sólidos que eu, Felipe, conheço, são os que não precisam expor um "em relacionamento sério" no Facebook, não precisam ficar com frescuras, nem provações forçadas para dizer "ele é meu" ou "ela é minha". Esses casais que forçam para proteger algo que não quer ser protegido, ah, esses casais não têm a minha credibilidade. A liberdade de um casal está na cumplicidade e fidelidade natural, pois eles se conhecem e não precisam demonstrar nada a ninguém. Não é uma declaração de amor que vai provar que há amor de verdade – não mesmo, nem sempre. É óbvio que existem casos e casos, mas quem sabe o que digo vai entender sem construir ponderações. Às vezes, a pessoa não precisa te amar para ser fiel, porque às vezes essa pessoa simplesmente tem fidelidade por convicções próprias de caráter. Fidelidade não descende de amor, mas sim de respeito e lógica. Algumas paixões são mais louváveis de que muitos amores, mil vezes mais belas e invejáveis.
Guardem isso consigo. E de vez em quando é preciso abrir mão, deixar a pessoa ir para conhecer novas experiências e novas dores. Você quer dizer todo santo dia um "oi/bom dia/boa tarde/boa noite", quer perguntar como ela está, mas não o faz, porque agora ela pertence a outro alguém ou você mesmo pertence a outro alguém. Não extrapolar esse limite, respeitar a escolha da pessoa e, acima de tudo, a sua própria escolha, é realmente o real significado de maturidade. Se você ganhou alguém e conquistou seu coração, se construiu um relacionamento, seja responsável por isso, seja feliz e esteja em paz. É sua responsabilidade cuidar deste coração conquistado, não importa se você sente amor ou paixão. Pois o cuidado que você tem e cultiva, isso sim é o que importa no final. Esteja bem com isso e poderá plantar e cultivar uma felicidade plena - bem mais plena que muitos pseudo-casais felizes por aí.