“Dedica-me um texto”, segredou-me, calorosa, ante à despedida.
Eis aqui minha dedicatória: “God
Bless Sasha Grey” era a foto no meu celular, naquela semana - os mesmos setes
dias iniciais que te conheci e que conheceste minha história. Levianos, num
encontro esporádico numa aula esporádica, onde a mistura separou grupos e uniu
acasos. A donzela com mais de mil amigos na rede social não era, nem de longe,
o alcance que um pobre garoto metido a escritor conseguiria em anos de
insistência, mas por vias da aleatoriedade, lá estávamos: diante um do outro,
por três aulas acidentais seguidas em um dia acidental com incidentes
imprevistos no grande caos de nossas vidas distintas. A moça cobiçada, sem
muito entender o que ali fazia e, obviamente, eu, sem muito entender o porquê de fazer aquilo, mesmo com a vida
“já feita”, como alguns diriam. Dedica-me
um texto, você quis soar culta, mas irônica lá no fundo. Escritores não são
garbosos, tampouco onipotentes ou másculos como você imaginou - eles têm a minha
aparência franzina e ridícula, ligeiramente descolada e com humor peculiar, se é
que você leu aquele livro esquecido no armário ou entende o sentido das
palavras “mic-mac” e “Dagon”. Farão piadinhas com esse tipo de coisa e ficarão
imensamente felizes se você entender. Quase
Sasha Grey. Mas, graças a Deus, não totalmente ela. Termina a aula acidental-ocasional,
voltamos aos nossos grupos e você me ressoa um sorriso tímido, com uma singela
tonalidade de “continua no próximo episódio”.
O mais engraçado, menina, é que eu te vi lendo “50 tons de
cinza”. Você me pareceu incrivelmente apaixonada pelo livro e, críticas à
parte, eu te defino desde aí. Se é este livro que te trará ao mundo da
literatura e te abrirá portas a novas propostas... Ótimo. Contanto que leias, não te julgarei pelo gosto. Ninguém
neste mundo é obrigado a ser ou fazer o que não gosta, sou a maior prova viva. Veja
isto como a sua dedicatória - que sei que não me pediu seriamente no instante
que pronunciou tais palavras. Nunca resisto ao chamado de uma dama, por mais
apaixonado ou desinteressado que eu esteja. Uma dama é sempre uma dama, e elas
são a razão pela qual escrevo e escreverei sempre. Sejam colegas de turma,
musas desconhecidas ou atrizes pornô. Todas, igualmente, possuem corações por
baixo dos seios (sejam eles fartos ou singelos) e já se apaixonaram na vida,
amaram e foram tão bobas como eu sempre costumo ser. Mulheres são sempre
mulheres, não importa o ofício, não importa a frequência com que sorriem, não
importa o formato do corpo, a cor da pele ou a dignidade entre as pernas. Para
mim, são todas imensamente iguais. E quando digo “iguais”, me refiro ao turbilhão
interior de sentimentos, razões e motivações que filtram e cultivam dentro de
si. Dentro de corpos e almas que nem mesmo elas são capazes de compreender.
Se hei de te dedicar um texto, eis
aqui ele: todo a você, sem que este encontro tenha sido real, sem que eu esteja
apaixonado. Textos são apenas textos, e se te escrevo um, não significa que a
ame; se nunca te escrevi um, não significa que não a ame. Escritores são assim: não somos garbosos, tampouco
onipotentes ou másculos como você imaginou - temos a aparência franzina e
ridícula, ligeiramente descolada e com humor peculiar. Amamos quando não
amamos, e não amamos quando amamos. Apaixonamo-nos quando nossos corações não
palpitam e, sobretudo, nos desesperamos de desinteresse quando a paixão nos
acomete, e/ou vice-versa. Não queira entender, apenas sinta e viva. Se
dedicarmos nossas mais fiéis palavras a você, acredite, é a mais pura verdade.
Não usamos pessoas reais como desculpa para mais palavras poéticas (essas, nós
conseguimos construir sem dificuldades), mas sim usamos palavras poéticas como
desculpa para expressarmos sentimentos reais.
Não é difícil de entender, é até fácil.
Seja você uma fiel leitora, seja você
uma Sasha Grey.