24 de dezembro de 2012

Capítulo IV, All I Want For Christmas Is You




Red From Christmas, Cap. IV,   All I Want For Christmas Is You.

Quando Evan caiu, tudo o que ele ouviu foi um grito. Um grito longe e perdido, desesperado. Feminino. Não soube por quanto tempo esteve apagado. Nessas situações, o tempo tem um jeito estranho de correr. Era como tentar dormir ouvindo música com os fones de ouvido. Você de repente sente o começo de uma canção e, logo em seguida, já se depara com o término dela, como se jamais tivesse existido um meio. Ficava sempre uma lacuna, e você se pergunta: “eu adormeci tanto assim? O que me pareceu ser uma noite inteira de sono, foi apenas alguns trechos de música perdidos e cochilados?”. Era estranho, e para Evan a comparação era a mesma.
Ser arremessado por um punhado de areia do mau e cair no chão. Ele sequer tivera a sorte de ser aparado por uma pequena montanha de neve, acumulada na entrada da garagem ou... Ou seja lá onde ele tinha caído. Tudo o que sentia era absolutamente nada. Não tinha dor, não tinha sofrimento. Sem lágrimas, nem cheiro de sangue. Tentou se mexer, e deu graças a Deus quando percebeu que ainda detinha o poder sobre o corpo. Talvez eu ainda não esteja tetraplégico. Mas a visão ainda estava turva, além da sonolência. Ele fechou os olhos, abriu e voltou a fechar. Esperou a visão se ajustar, percebendo que ainda estava na frente de casa, mas bem afastado... Muito mais distante. Girou o rosto, buscando um conforto. Os lábios encostaram em algo ainda mais frio: o asfalto. Talvez estivesse no meio da rua, ou quem sabe na calçada. Fechou os olhos. Reabriu. Enxergou Stacy nos braços de Chris. Ela se debatia, esperneava com veemência. Fechou os olhos. Quando abriu, ela já estava ao seu lado, não, não. Ela estava sobre ele, de joelhos no chão, acariciando-o o rosto. Seja lá como ela tinha chegado ali, Evan tinha certeza que um segundo atrás estava sendo segurada por Chris. É... Aquilo era como dormir com fones de ouvido. Você não sente a música passar, sem perceber, fecha os olhos, transitando entre a sonolência e o mundo real. Aí segundos se transformam em horas de sono ou vice versa. Como cheguei aqui? No fim da música? Como passei... Como... Como cheguei em outra música? Como?

14 de dezembro de 2012

Segredo




Em poucas palavras: não precisas mergulhar a fundo no glamour das letras, nem tampouco ser um exímio mestre agregado a diplomas e doutorados. Tudo o que precisas, para afundar nesse mar negro de mãozinhas ferozes e cadavéricas, é uma pitada forte de sensibilidade e compreensão da mente louca humana. Vá em frente e entenderás. Vá em frente e serás memorável, seja tecendo inícios, conflitos ou soluções. Em poucas palavras? Desbrave a fundo a psicologia que há no medo, mostre os limites violentados das emoções e terás sucesso. Ou simplesmente nasça com a loucura encravada nos teus olhos negros. É isso. Sem mais, nem menos.

13 de dezembro de 2012

Ele tinha tudo



Tudo.
Ele tinha tudo. Não materialmente falando. Não tudo o que queria. Não tudo o que precisava. Tudo que merecia. Coisas boas e ruins. Evitava reclamar ao máximo, pois sabia que tinham pessoas que não tinham as coisas boas que ele tinha e que tinham pessoas que tinham coisas ruins bem piores das que ele julgava ruim. Um bom emprego, uma família que o apoiava, um curso que lhe realizava. Não tinha mais uma mulher que o amasse. Foi estúpido o suficiente para perdê-la. Lamentava? Não. Fazia mais falta a amiga que ele perdeu junto com ela. Ainda faz. Mas ele tinha tudo, só que o seu tudo não era suficiente para fazê-lo feliz. Queria mais. Muito mais, porque sabia que o mundo tinha esse ‘muito’ para oferecer. O quê era esse muito? Se soubesse já tinha ido atrás pra conseguir, mesmo que sem esperanças de obter. Então ele corre atrás de várias coisas, esperando, torcendo, implorando ao seu Deus independente de uma religião que umas delas fosse a que ele tanto buscava – em vão por enquanto. Entregava-se às atividades mais diversas imagináveis. Sentia saudade de seu vídeo-game, que já havia sido testemunha de alguns dos seu dias mais tristes e sem sentido. Tentar voltar a ser criança, para tentar fazer sumir os problemas que não lhe importavam nessa época. O mundo ultimamente vinha exigindo muito dele. Não mais do que ele podia suportar, contudo, mais do que ele esperava. Sentia falta das coisas simples. Conversar à mesa da cozinha sábado à noite. Vinho nas taças, Cartola tocando. Uma realidade cada vez mais distante e esporádica, realizável em situações obtidas através de um malabarismo insano e milimetricamente calculado, de forma a comprometer menos possível sua rotina maquinal, mas que o agradava. O próximo passo? Não fazia ideia. Não fazia questão. Só queria se sentir minimamente preparado. Impossível, sabia disso. Mas não tinha medo nem esperanças. Só grandes planos. Iria esperar que tudo acontecesse de forma natural, seguindo o curso natural das coisas. Não havia motivos para ansiedade, afinal, ainda conseguia se convencer de que tinha tudo e de que aquele todo era o necessário.

(T. S. Banha)

12 de dezembro de 2012

Engole essa porra




Engole essa porra, mas engula tudo, partícula por partícula, detalhe por detalhe. Há quem diga aqui que eu esteja pervertido. Pelo quê? Um trocadilho com palavras? Ambiguidade? Pois aqui eu te mando engolir uma porra, não literal, mas de outro tipo. Engole essa merda. Engole esse ego. E se suas mentes tendenciosas entenderam minhas palavras pelo lado malicioso, então vão se foder antes de me chamarem de “pervertido”, porque essa merda de ego é uma porra nojenta e estúpida. Odeio ego. Gente idiota, gente pura, julgadora e promíscua. E voltando ao assunto: fique pé no chão ou siga em frente, fazendo o que você faz de melhor e se convencendo que as coisas estão acontecendo agora. Aliás, contradizendo tudo o que disse até aqui, esquece essa merda. Santidade puritana. Foda-se. Na realidade, engole a porra do ego não. Mantenha para si, usufrua. Você pode, és dotado de talento. Talento nato, moldado e crescente. Dane-se o ego. Colha. Aproveite. Porque eu vejo o sorriso que você dá às escuras. Chega a dar medo, é assustador, mas divertido.  

10 de dezembro de 2012

Capítulo III: Santa Claus Is Coming To Town




Red From Christmas, Capítulo III, Santa Claus Is Coming To Town

Evan caminhava em passos lentos e mancos. Chegou à sala de estar com certa dificuldade através do visível ferimento à bala, que insistia escorrer pelo braço. Apenas algumas gotículas de sangue pingavam-no da mão esquerda, evidenciando a grande quantidade que provavelmente já havia descido.
As conclusões eram óbvias: ele tinha sobrevivido ao disparo à queima roupa, mas não era exatamente sua sorte que importava naquele instante. Ainda havia um monstro – Papai Noel – presente naquele lugar, prestes a fazer picadinho de qualquer um que oferecesse resistência aos seus objetivos – sejam lá quais fossem. Evan já fazia uma pequena noção do que ele pretendia e faria o que fosse possível para impedí-lo, já que agora estava mais perto de reverter o terror que fora previsto durante a última semana. Os pesadelos eram proféticos, e se Evan escapara uma vez da morte – ao pular para longe da direção do carro de Chris – então isso significava um traço de esperança em todo aquele pesadelo: era possível mudar as coisas.
- Ficou louco, porra? – Chris bravejou após uma risadinha nervosa. Olhava na direção de Evan com uma infinidade de dúvidas, desde quem poder acreditar; como o pirralho maluco sobrevivera; quem era aquela criatura na sua sala de estar e, acima de tudo, quem de fato matara seu amigo Mike. A resposta, é claro, estava bem palpável diante de si, bastava apenas clarear o caminho à frente para acreditar nas respostas. – Papai Noel? Que merda!
Stacy ainda permanecia no mesmo estado de choque, mas agora parecia um pouco mais lúcida. A figura de Evan, vivo e respirando, a aquecera como uma xícara de chocolate quente no inverno. Sem pensar muito, ela expulsou a mão de Chris que a segurava e correu até Evan, abraçando-o como se não se vissem há centenas de anos.
- Você está vivo... Você está vivo... Você está...
Era tudo o que a garota conseguia pronunciar. As lágrimas de alívio já despencavam dos olhos.
Como resposta, Evan retribuiu o abraço, imensamente contente por senti-la mais uma vez entre seus braços. Não deixava de pensar no imenso terror que o assolou no momento que esteve caído naquele chão, sangrando e esperando a morte. Naquele momento, só conseguia pensar no desespero de sua família, e bem mais forte que isso, na delicada e doce pele de Stacy, o perfume que exalava e o olhar expressivo refletido em suas memórias como a última imagem que teria durante os últimos instantes de vida. Talvez aquilo fosse certo grau de delírio ou obsessão, mas não negava o quanto Stacy ocupava um lugar importante – e extremista – em sua vida.

Ruby



Neste exato momento, eu estou rindo enquanto choro, porque finalmente consegui escrever de novo.  Não, não faz sentido. Eu sei. Só estou. Percebi que a vida é muito além daquilo que planejamos. O contexto que me fez pensar sobre isso não é relevante pra quem lê, porque talvez não entendam, mas significa muito pra mim. Um filme. Ruby Sparks. Eu me vi na obrigação literária de escrever algo, assim como tinha a obrigação marcial, de repetir os movimentos depois de ver Karate Kid- o verdadeiro. Ainda hoje faço isso. Me faz não esquecer o quanto é bom ser criança. Tudo isso me fez perceber que eu tinha um mundo inteiro a meu dispor mas que deixei de lado por ela. Assim como percebo que esse mundo ainda está ai, mas que sem ela não tem tido muito sentido. Uma hora eu vou ser capaz de desfrutar. Fiz planos. Eu não crio expectativas, eu só tenho esperanças. Posso viver com frustrações – que não são poucas – mas não sem um motivo. Hoje, eu só preciso definir exatamente qual é esse. Já tenho ideia das coisas que quero fazer, dos lugares que quero conhecer, dos objetivos maduros e idiotas que eu tenho. Estou pondo em prática, aos poucos. Eu queria que tudo tivesse sido diferente. 40 anos de planos já tinham sido traçados. Ela sabe. Ela não imaginava um dia cogitar isso. Mas cogitou. Só que as coisas não saíram como planejei(amos). Como sempre, paciência. Muita. Eu ainda sinto falta dela. Se ela sente de mim? Espero que não, eu sei o quanto é ruim. Mas aprendi com Benito que temos que sorrir, mesmo que o peito esteja cheio de mágoas e que não temos controle sobre o curso natural da vida. Sei que a arte imita a vida, mimese, mas quem sabe, um dia, como pra Slim, a minha vida possa imitar a arte e, assim, eu possa reencontrar minha Ruby. Talvez não como no filme, com uma nova história de amor. Só o sorriso dela já é mais do que suficiente.

(T. S. Banha)

8 de dezembro de 2012

H.M I



Um dia se está sonhando. No outro já é realidade. Foi a melhor época, se ao menos alguém tivesse dito. Erros foram cometidos. Corações foram quebrados. Lições difíceis aprendidas. Minha família segue sem mim. Enquanto me afogo num mar de xoxotas insignificantes. Não sei como cheguei aqui. Mas aqui estou eu. Apodrecendo sob o Sol quente da California. Há coisas que preciso aprender. Pelo bem dela, pelo menos. O relógio está correndo. O buraco está aumentando. Ela nem sempre vai me amar, de qualquer forma.

1 de dezembro de 2012

Vontade de escrever




Tive essa vontade. Um assunto me surgiu na mente ou talvez nenhum. Às vezes é tão simples, que chego a rir, esnobe, da situação. Eu posso, quando eu quiser, sobre qualquer coisa, sobre qualquer um. Não por ser gênio, mas por deter da prática. E aí me veio essa vontade. Especificamente sobre qualquer coisa, coisa alguma, coisa nenhuma. Um conto, um capítulo, um esboço, um texto literário ou um projeto novo. Tanto faz. Eu precisava escrever, mas aí lembrei que meus pés doíam, meu corpo estava saturado e meus olhos sonolentos. Precisei dormir e assim o fiz. “Amanhã eu escrevo”. Porque muitos por aí acham que, para tecer algumas linhas, é preciso inspiração. Papo furado. Equivocado pensamento. Erro fatal colocar a responsabilidade na inspiração. Não dependo dela. É preciso escrever, sempre. Exercitar, aperfeiçoar, moldar, lapidar. Não importa a definição, já que o mais importante é o ato, não o resultado. Amanhã eu vou acordar e escrever o que quero. É assim que há de ser feito. Porque se meu futuro sustento vai depender disso, então esqueço a inspiração, faço o planejamento, sento e escrevo. Simples assim. Por mais que saia uma merda, por mais que fique ridículo, eu devo escrever. Aliás, ontem pensei nesse texto, senti vontade, mas tive sono. Dormi. Acordei, executei os afazeres do dia e, agora, nas últimas horas antes de pregar os olhos, lembrei que precisava remoer o assunto e escrever sobre ele. E aqui estou. Não precisei de inspiração. Apenas o fiz. Pronto e consumado. Simples... Simples assim.