27 de junho de 2011

Minha fantasia



Ele a levou para cama naquela noite.
Não havia ninguém na casa a não ser ele e ela, e durante o dia inteiro ambos partilharam do verdadeiro significado da palavra “felicidade”. Sentaram no sofá, assistiram filme, mudaram de canais na televisão por tantas vezes que já estavam rindo da ação. Observaram os desenhos, e comentaram todos os detalhes – como o gato arranjou uma arma de alta tecnologia em pleno velho oeste? Mudaram de canais por mais três vezes antes de apertar o botão “mute” e contemplarem o rosto um do outro.
Sob a tarde chuvosa daquela Quinta-Feira, os dois se beijaram tão calma e despreocupadamente. Não houve pressa, não houve precipitações, não havia o que mudar naquele beijo, porque era aquele o ato mais perfeito e ideal de suas vidas. O beijo. É fato que a intensidade da garota exigia mais, no entanto ele a acalmava e deixava claro que estava tudo perfeito demais, e portanto não havia necessidade de intensificar o toque dos lábios. Entendem? Tudo o que mais importava era, essencialmente, o beijo, e se aquele era o toque mais importante, o porquê de avançar logo? A garota então entendeu a essência dos pensamentos dele, e o acompanhou no ritmo calmo e supremo de satisfação.
Descolaram então as bocas e sorriram. Ele acariciou a aveludada face dela e repetiu o movimento por tanto tempo, que a garota sequer percebeu os minutos transcorrerem. Ela sentia-se bem com aquilo, mas não fazia ideia do quão maior era o bem-estar dele. O garoto a amava, com todas as suas forças e com cada fibra existente de seu corpo e cada partícula de sua alma. Ele a amava, e dane-se as explicações metalinguísticas que tal amor implicava. Amor era amor – sem mais explicações.
Então a noite logo desceu envolvendo as horas finais do dia claro. Ele a segurou entre os braços, envolvendo com extrema delicadeza e devoção – ela mais parecia uma deusa ou divindade celestial. Carregou-a até o quarto, e com as luzes apagadas e a leve brisa rompendo a janela lateral, o garoto deitou-a na cama com uma tranquilidade ainda mais acentuada da qual a havia tomado pelos braços.
Juntos, lado a lado, os dois trocaram olhares. E sem uma palavra sequer, disseram tudo o que havia de ser dito através das expressões e dos leves selinhos que trocavam a cada quinze segundos. Naquelas atitudes permeneceram pelas horas iniciais e serenas da noite de quinta-feira, nada fizeram, nada disseram – não teve necessidade, não era preciso, já que o simples fato de estarem juntos já superava qualquer atitude física e carnal. E durante este envolvimento espiritual e emotivo o garoto imaginou o que seus amigos o incentivariam, bem como toda a comunidade masculina-científica, ou até mesmo seus hormônios mais primitivos. Era a oportunidade perfeita para a concretização de um fato sexual. Sim, o garoto imaginou isso – ele não era de todo perfeito. Mas, ele apenas imaginou, e não cogitou fortemente a possibilidade. Qual a razão disto? Ele a amava, e justamente por isso sabia que o maldito sexo e o envolvimento carnal não era o que ele desejava ou planejava. Estar com ela, tê-la diante de seus olhos e sob o toque superficial de seus dedos era bem mais importante e enfático.
Sim. Naquela noite de Quinta-Feira, ele levou a garota que mais amava para cama, mas não precisou agir sob atitudes medíocres para provar sua masculinidade. Era ridículo. O amor que sentia por ela superava qualquer coisa, e tudo – aquele garoto, ou em outra perspectiva: eu – necessitou apenas da simples ideia de tê-la diante de si, causando nele a sensação mais substancial do mundo: seu coração batia, e seus olhos tinham a vontade de transbordar de tanta emoção.
Naquela noite, os dois adormeceram lado a lado.
Naquela noite, o garoto a amou do seu jeito.
Era tudo o que importava.

25 de junho de 2011

Segredos Ocultos


Pois é: deixe-os guardados. Pessoa alguma precisa ter o conhecimento da grande dor que ocupa seu corpo, e a razão disso é tão simples de se entender que sequer precisa cair na explicação. Mas ainda estamos aqui, sobrevivendo a mais um dia de dor. Só que não há razão de esbanjá-la por aí, o mundo está cheio disso e ninguém precisa te escutar – há uma conjunção, já que você também não precisa expôr tais problemas. Sabe, o mundo gira, as vidas rolam e rodada do destino permanece fluindo; pessoas sofrem, pessoas choram, pessoas machucam, pessoas caem. E o tempo? Ele não vai parar. Você não é o centro do universo, por isso indivíduo algum vai parar tudo para escutar. Ou vai? De um jeito ou de outro, a questão se baseia no simples fato de ninguém necessitar ouvir suas mágoas.
Existem problemas demais por aí e por uma atitude puramente altruísta, você opta por não preocupar as pessoas que ama para ouvirem suas dores. É simples. Nesse ínterim, continue chorando no escuro e quando ninguém estiver observando; deite a cabeça no travesseiro e morda o lençol, sofra em silêncio no pêndulo da madrugada solitária; vá ao chuveiro e misture suas lágrimas com a água do banho. Sério, cara... Não perturbe as pessoas, já chega. Porque sua dor magoa os outros, destrói todas as esperanças que elas constroem sobre você, e quer saber? Percebemos que nunca fomos tudo aquilo: quebramos expectativas, e não nos importamos – apenas seguimos em frente com o pensamento de que as coisas vão cicatrizar. Simples assim.  Então, qual o fútil motivo para desabafar essa dor que há tempos vem me consumindo?
A questão, aqui, não se baseia também em força, mas omissão. Ou mentira. Você está sofrendo de amor, cara. E isso é uma droga. Está tão caído a ponto de desenvolver um desinteresse aparentemente eterno; você fica sem desejos e sem vontades, e renega todas as outras opções que surgem na sua frente como um puro presente de Deus. Mas, e aí? Você não quer saber de nada, peo menos não por enquanto, não durante o tempo que sua cabeça volta-se a um único coração e seus sentimentos choram pelas saudades de uma época distante. Então, mantendo esta história sob os panos e jogada de baixo do tapete sujo da sala, é necessário ter em mente uma coisa: não há interesse, nem felicidade, muito menos esperança – é claro: pelo menos por enquanto.
Portanto, calemos nossas bocas – e estou mantendo a minha bem fechada. Sorriremos por pura educação, e responderemos um “estou bem” apenas por hábito. Mentiremos para amigos e familiares; omitiremos a enorme e forte presença de nossa dor. Dor. Dor. Lágrimas. Continuaremos vivendo, respirando involuntariamente. Simples assim. Porque nós – você, eu, e outros milhares que compartilham desta inoportuna desilusão – não somos fortes, mas sim um bando de mentirosos fingidores que não cogitam compartilhar esta dor. Não iremos desabafar. E este segredo – ah, esse maldito aperto no peito – continuará nos corroendo até estarmos mortos e/ou aptos a uma nova jornada.
Ninguém precisa conhecer minhas atuais dores. Ninguém trará de volta a época que fui feliz.
Nem lembranças, nem conselhos. Apenas as águas desabam de meus olhos.

19 de junho de 2011

MF2019 - #01

01.
Look Alive, Sunshine


Prólogo


9 de Novembro de 2019, UNIT SCARECROW, Distrito 5, Battery City

As chamas ainda se acendiam na sala de controles da unidade SCARECROW. A imensa e arrendondada sala tinha por suas paredes em volta todos os painés e computadores destruidos, e um por um eles explodiam e arremessavam consigo faíscas de fogo e estilhaços de vidro. O ambiente era iluminado pela luz constante de alerta, que, em tons de vermelho, anunciava a auto detonação em poucos minutos. A voz feminina berrava em um idioma oriental, mas não era preciso ser influente naquela língua para entender a essência de sua mensagem.  
No centro do lugar, quatro figuras olhavam atentamente para o brilhante objeto que irradiava luzes douradas e cada vez mais crescentes. Envolto por um sofisticado equipamento de sustentação e acoplado a um sistema cilindrico de material transparente, o monitor da máquina mostrava algo muito parecido a um relógio que em seus trinta pontos de carregamento, exibia um processo ainda inacabado. As luzes azuis do monitor anunciavam que apenas dezessete daqueles trinta pontos estavam completos. E eles precisavam estar completos antes da auto destruição do lugar. 

Teu dom?



Menosprezar seu dom? Impossível. Aliás, eu deveria chamar isso de dom? Chamá-lo assim é a própria imagem do menosprezo, porque o que você faz é além disso, transcende os céus e explode as estrelas, cria vidas novas e sentimentos desconhecidos. Dom? Dom não é o que você tem, mas sim um privilégio absorvido dos celestes, algo tão perfeito e profundo que afaga a verdadeira existência humana e os mais distantes sentimentos. Dom? Dom é o que eu tenho: apenas mais um mortal com a capacidade pouco mais acentuada que outros, mas nem por isso superior. Sou acessível, alcançável, desprovido desta dávida celestial que você possui. Um simples mortal que, enfocado neste ramo, procura tocar a perfeição que provém de você, embora eu saiba que tal feito seja improvável. É como Platão um dia falou: "Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele". Poetas... Sim, eu sou um, bem como outras centenas de milhares de pessoas. Embasadas em conhecimentos ou não, somos pessoas capazes, através do esforço, de alcançar esta utopia mínima da literatura. Mas, e quanto a você? És mais que poeta, mais que uma simples pessoa detentora da cultura e dos conhecimentos. És o ser mais belo dos escritores, o mais belo dos poetas, a primazia da perfeição. Já eu, estarei aqui, fadado ao declínio de uma existência fracassada. A razão disto? Eis a explicação: jamais te alcançarei, minhas palavras nada são perto da grande conjunção das tuas. Sou um tolo sonhador, um bobo escritor, uma criança ingênua. Jamais estarei perto de você, nem mesmo minha metalinguagem mais perfeita definirá, com precisão, tudo aquilo que és capaz de construir em apenas uma linha, um parágrafo ou um texto inteiro.

13 de junho de 2011

Não precisamos de outra palavra sobre esperança


Não precisamos de mais um texto exaltando a esperança, uma canção de amor ou um futuro melhor. Chega das linhas belas e otimistas, das balelas que os mais fervorosos andam contando sobre como nossas vidas abandonarão o tempo de tormenta e regressarão a um estado de felicidade suprema. Chega. Pois nós crescemos, passamos por tantas coisas em tão pouco tempo, seguimos por caminhos diferentes dos habituias e amadurecemos mais rápido, assim nós sofremos mais do que o esperado para a pouca idade. Somos homens mais enraizados no chão e mulheres menos visionárias. Desacreditados, há quem diga. Mas extremamente realistas, corrigimos.
Jovens garotos e garotas, que riem de ver os mais novos chorando por tudo e por nada. Fazem do pouco um espetáculo esplêndido, deturpam o amor, a dor e a tristeza, fazem disso a grande bola da vez, a imensa jogada da vida. Coitados, afirmamos. Onde estão vocês, pobres amigos, decadente geração, para afirmar tais convicções? Vocês não estão verdadeira e profundamente quebrados como nós, portanto não façam da realidade um fruto de seus encenações para atrair o público. Somos os grandes espectadores, os jurados finais da peça, e daremos nosso veredito: ridícula atuação, péssima abordagem daquilo que – somente – nós sabemos e sentimos à flor da pele.
Talvez, entretanto, sejamos aqueles homens e mulheres mais desprezíveis que ainda ousam vagar na terra como fantasmas. Desprovidos de sonhos, nós traremos a verdade dos fatos; renegando o amor, nós diremos que tudo é uma farsa – pois esta é a essência da vida: fadados nós estamos ao fracasso, numa busca incessante por algo que nunca teremos, ou, em último caso, se tivermos, será por meio de uma farsa ou pela metade. Somos os perdidos do sentimento, os cruéis mendigos das ruas do amor, da paixão, do espaço onírico dos sonhos.
Haverá esperança neste mundo que nos cerca? Talvez sim. Quem sabe o mundo apenas não nos beneficiou com o privilégio da sorte, e acabou nos condenando ao Sheol do sentimentalismo humano. Nós, os desacreditados e desencantados, vivemos na parte obscura do mundo, tocamos o afável véu da falsidade e das traições, caímos numa realidade profunda de amargura e desesperanças e agora a maldição nos acomete de tal forma, que renegamos a tudo e a todos.
Não acreditamos nas coisas boas, nos contos de fadas e nos best-sellers amorosos. Pelo menos, não mais. Simplesmente, apenas pura e claramente, estamos perdidos neste mundo de mágoas, e se um dia tivemos uma aura boa envolvendo nossos inocentes corações, hoje não mais assim somos por conta do veneno injetado nas veias, que expurgou a coisa boa e nos contaminou com a diabólica doença da renúncia.
Não afirmo aqui uma posição concreta a todos os homens, mas sim apenas a nós. Certos indivíduos ainda conhecerão a vida boa como os esperançosos fervorosos insistem disseminar, e com sorte – a mesma que nunca tivemos – jamais cairão neste Inferno de desilusões e perdição. Desejo sorte a vocês, porque nós estamos perdidos. Não acreditando mais em frases otimistas, tampouco nos poetas ou simples apaixonados que proclamam lindas passagens sobre “Um novo amor virá. A vida lhe aguarda uma bela surpresa”.
É. Não me escute, não me analise. Não ouse julgar a corrente da qual pertenço, tampouco critique meus companheiros de perdição.
Afinal, quem irá entender toda a dor que aqui há devido à outrora e gigantesca - e já esquecida - busca pelo amor supremo ou felicidade concreta? Estamos crescidos, maduros, podres, infrutíferos e fétidos. A carnificina da alma não mais nos corrói, pois já é habitual.
Estamos, no fim de tudo, perdidos à vida jovem por vagar sem sonhos e esperanças. Desacreditando tudo, afagando o nada.

10 de junho de 2011

Senhor, a proteja agora



Eu ajoelho, depois de muito tempo estou ajoelhado. Antes que me entendam mal, não estou implorando pela libertação, tampouco clamando por uma fuga. Ajoelhado, perante o Senhor; perante o Altíssimo; diante da mais pura personificação de bondade e compreensão. Estou diante de Deus, muito embora eu ainda não acredite nele. É contraditório, é irônico, é paradoxal. Mas você acredita nele, teme e deposita fé neste ser que eu nunca entenderei de verdade. E aqui estou eu, sob a essência mais pura que já se ouviu falar; estou conversando no escuro, de dedos cruzados e joelhos ralados. Por que o faço? Estou rezando, estou pedindo – não por mim ou por futuras vitórias particulares – e chorando lágrimas secas. Eu sei que você acredita nele e que sua fé supera qualquer outra crença, e é exatamente por isso que hoje estou rendido sob o poder do Altíssimo. Você acredita, meu amor. E por mais que não confie nas minhas fracassadas e repetidas palavras, eu rezo todas as noites por você. Peço e clamo por seu bem-estar, por um futuro digno à sua pessoa – ou até mais. Aperto meu coração com a névoa da minha alma, seguro a garganta com as mãos e forço o rosto no travesseiro. Eu peço ajuda a Deus: peço a ele algo que não posso executar de forma direta; peço que Ele cuide de você em todos os momentos e que todos os anjos a sigam, que contornem sua cama durante o sono e destruam todas seus medos e desilusões, que afastem seus pesadelos esporádicos. Rezo aos santos e ao filho Dele. E apesar de todo meu ceticismo, minha pecaminosidade e os pecados através de palavras profanas ditas, ainda estou pedindo para que Eles a salvem, porque se eu não aguento viver longe de ti desta maneira, então não suportaria viver num mundo onde você não mais existe. Por isso eu peço, por isso estou de joelhos rezando por sua proteção, desejando um amor mais intenso e à sua altura. Desejo que o outro faça tudo o que um dia eu não fiz, e que seja toda aquela essência boa que deixei de ser. Peço aos anjos que você não chore, porque dói tanto ter de imaginá-la sangrar. Deposito toda a grandeza de minha incredulidade nesta fé passageira, neste desejo voltado única e exclusivamente ao seu bem. Por isso eu sempre vou estar aqui, ajoelhado no chão e sustentando nos cotovelos o peso da minha angústia, sofrendo para que tu não sofras, morrendo em tua ternura. Não sofra, não chore, não sangre, meu grande amor. Pois se depender de mim, todo o Céu estará acolhendo-a em planos ternos e bondosos, prometendo-a o paraíso do qual minha falta de crença jamais me permitirá. Estarei aqui, e ainda estou, todas as noites rezando por você, pedindo a salvação, sorrindo por sua proteção. Não importando minhas dores – isto ei de suportar, e como irei – e medos, desprezando a decadência e os pesadelos. Eu vou roubar todos os seus males, perecerei se for necessário livrá-la da maldade do mundo. E por fim, sei que seu Deus irá salvá-la e cumprir a promessa que fez a mim: ela permanecerá segura e nunca mais sangrará. Só peço, amada minha, que confie em minhas palavras. Eu nunca acreditarei em Deus, mas por você esta exceção é mais que uma simples condição, é a minha própria crença mais fiel e sólida. Deus, por favor, a proteja de todos os males. Deus, por favor, a aqueça com o outro amoroso cálice.


3 de junho de 2011

Memories From 2019


Como diz o ditado: Mente vazia, oficina do diabo. E cá estou eu, novamente, produzindo planos mirabolantes que não contribuirão em nada para o futuro da humanidade ou para matar a fome dos mais carentes. É isso o que um desocupado despreocupado com a vida começa a pensar numa quinta-feira à noite, assistindo Cartoon Network e praguejando o insuportável do Ben 10. Isso, esta ideia me surgiu ontem e não vou abandoná-la, é digna demais para tal acometimento.
OBS: NÃO TEM NADA A VER COM ALIENS OU GAROTOS TEIMOSOS E CONVENCIDOS COM UM RELÓGIO DAS GALÁXIAS.
Anyway. Isto aqui, vai especialmente – até porque eles entenderão logo de cara – para meus amigos Killjoys, e sem mais delongas ou explicações desnecessárias, farei uma série de curtos contos – vulgos Fanfics, mas eu não gosto do termo – sobre o Danger Days, The True Lifes of The Fabulous Killjoys.
Então, me aguardem Killjoys, sobretudo o Nigger e o Doce!